Apresentação

Eu uso mais ou menos a mesma estratégia no espaço físico e no papel [..] É abstrato, mas é um elemento no espaço que obedece uma certa estratégia, a mesma que eu uso no desenho.

– Paulo Monteiro

Paulo Monteiro desenvolve sua reconciliação contínua com as formas duais da pintura e da escultura ao construir uma narrativa entre as duas. Explorando de maneira contínua as margens e os limites da forma, Monteiro utiliza o espaço negativo como um meio, fazendo com que suas pinturas pareçam esculturas e suas esculturas pareçam pinturas. Sua paleta oscila entre tons predominantemente frios e quentes, azuis escuros e uma variedade de vermelhos que criam, de uma só vez, uma profundidade interligada, de um contraste quase estridente; seus brancos e cinzas oferecem um tato semelhante àquele observado em seus desenhos. 

Monteiro iniciou sua prática artística em 1977, reunindo, de modo precário, pedaços de madeira em composições que sugeriam simultaneamente movimento e colapso, concentrando-se na expressão do material. Ele também criou histórias em quadrinhos cujo estilo era influenciado por quadrinistas como Robert Crumb e George McManus, além do renomado caricaturista Luiz Sá. 

Entre 1983 e 1985, ele integrou o grupo Casa 7, ao lado de Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Rodrigo Andrade. Juntos, os artistas participaram de exposições no MAC – São Paulo, no MAM-RJ e na 18ª Bienal de São Paulo, em 1985, trazendo o Neoexpressionismo à frente da cena de arte paulistana. No fim dos anos 1980 e no início da década de 2000, Monteiro mergulhou em sua prática escultural. Seu retorno à pintura, feito há mais de uma década, trouxe um novo nível de consciência à sua obra. 

Nos últimos dez anos, Monteiro se voltou a pedaços de corda, restos de madeira, papelão, tiras de alumínio e argila, que se tornaram as bases de suas esculturas. Ao usar argila, ele estende as placas do material, dissecando-as e espremendo-as com as mãos, até que um interior animado se revele. O mesmo processo de desdobramento conceitual é aplicado à sua técnica na pintura, com inversões e construções feitas a partir do centro do quadro. A tinta é empurrada para os cantos da tela, criando fronteiras vigorosas, físicas. É comum que dois quadros feitos com o mesmo tipo de pincelada pareçam diferentes, a depender da cor, da forma e da escala da tela, que variam bastante. Embora uma fisicalidade maleável impregne as obras de Monteiro, ele também se preocupou com a exploração da possibilidade da linha durante boa parte de sua carreira, expressa nas pinceladas de seu trabalho em papel, nos relevos de suas pinturas e nos cortes de suas esculturas. Suas linhas nunca são completamente retas e nem seguem uma lógica; no sentido deleuziano, são linhas que seguem dois sentidos ao mesmo tempo – existem entre a afirmação e a negação do espaço. 

Essa plasticidade radical em relação ao observador guiou Monteiro às suas “constelações” – configurações de suas pinturas e esculturas –, que lidam com a fisicalidade do objeto em relação ao artista e ao observador, como os Objetos Ativos de Willys de Castro. É por meio do posicionamento cuidadoso do espaço negativo que essas “constelações” ganham forma. Monteiro também alcança isso através de suas esculturas, formadas pela impressão negativa de sua mão e seus dedos, moldados no material barroso e depois forjados em bronze ou chumbo. Seu tema, aqui, é a vida e o ímpeto interior dos objetos. Em suas próprias palavras, sua intenção é “trazer à vida o que não tem vida”.  

Paulo Monteiro(n.1961, São Paulo) vive e trabalha em São Paulo. 

Suas obras foram destaque em mostras como Ao redor da distância, Mendes Wood DM, São Paulo (2024); A cor da distância, Mendes Wood DM, Bruxelas (2024); Archipelago, Germantown (2023); Undefined Inclusions, Pace Gallery, Nova York (2023);Paulo Monteiro: Linha do Corpo, Instituto Ling, São Paulo (2023); The Middle Distance, Zeno X Gallery, Antwerp (2022); Colors without a place, Tomio Koyoma Gallery, Tokyo (2022); Paulo Monteiro: The Two Sides of An Empty Line, Lévy Gorvy, New York (2021); The Empty Side, Zeno X, Antuérpia (2018); Coleção MAC Niterói: arte contemporânea no Brasil, MAC Niterói, Rio de Janeiro (2017); The outside of distance, MISAKO & ROSEN and Tomio Koyama Gallery, Tóquio (2017); Building Material: Process And Form In Brazilian Art, Hauser & Wirth, Los Angeles (2017); The inside of distance, Office Baroque, Bruxelas (2016); The inside of distance, Mendes Wood DM, São Paulo (2015); Casa 7, Pivô, São Paulo (2015); Empty House Casa Vazia, Luhring Augustine, Nova York (2015); Paintings on Paper, David Zwirner, Nova York (2014);Where Were You, Lisson Gallery, Londres (2014); 22ª Bienal de São Paulo (1994) e 18ª Bienal de São Paulo (1985). 

Seu trabalho integra inúmeras coleções permanentes, incluindo: The Museum of Modern Art (MoMA), Nova York; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo; Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC-SP), São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Rio de Janeiro; Start Museum, Shanghai. 

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  • Paulo Monteiro – Studio Visit, 2024

    Nov 27, 2024
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