After Color Eunnam Hong
A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar After Color, a primeira exposição individual de Eunnam Hong na Europa, na galeria em Bruxelas.
Nascida em 1979 em Ganwang-do, na Coreia do Sul, e hoje vivendo e trabalhando em Nova York, Hong chegou ao mundo da arte por um caminho pouco convencional, após uma formação em design gráfico e uma carreira na moda e na publicidade. A artista apresenta seu trabalho por meio de pinturas figurativas meticulosas em óleo sobre linho, das quais treze estarão expostas em After Color. Combinando diversas referências do cinema e da história da fotografia, Hong se dedica a explorar questões de representação.
Para criar as cenas em suas obras, a artista utiliza seu estúdio/casa e seu próprio corpo, posando repetidas vezes para a câmera e usando perucas e adereços enquanto transpõe essas imagens, forjando novas estéticas. Esse exercício de encenação permite à artista enfrentar a complexidade de viver diversas identidades – as de mulher, mãe, artista e imigrante.
Um ensaio de Harry Tafoya acompanha esta exposição inaugural:
Não é segredo que a moda vende conformidade sob a promessa de individualismo, que o glamour de se destacar é projetado para atrair consumidores a produtos de fabricação em massa. Em seu nível mais elevado, estilo pessoal não se trata apenas de chamar a atenção, mas de capturar toda a gama de contradições de uma pessoa sem resolvê-las. Quando Catherine Deneuve, então embaixadora de Yves Saint Laurent, descreveu o costureiro como alguém que “[desenhava] para mulheres que levam vidas duplas,” ela estava destacando a mutabilidade de suas roupas, que não eram feitas apenas para serem vestidas, mas para conter multidões. Comprar uma peça Saint Laurent era, ao mesmo tempo, aderir e abdicar do que significava ser mulher: ser encantadora como uma dama ou ousada quanto um cavalheiro, vestindo os conceitos de feminilidade com leveza e ironia.
O dilema da moda permanece o mesmo, mas as contradições são cada vez mais presentes. Não só precisamos conciliar nossos “eus” públicos e privados, mas também nossos “eus” físicos e digitais. A mídia social é um espelho rachado e uma câmara de eco, reiterando desejos que mal temos ao nos inundar de imagens que mal desejamos ver. O fascínio de uma “vida dupla” foi subsumido pela criação profana do que a escritora Meghan O’Gieblyn chama de “um segundo eu”, um eu que é “puramente informacional e imaterial, um conjunto de dados de nossos cliques, compras e curtidas.” Se o gênio de Saint Laurent foi desfazer o espartilho da convenção, o dilema moderno é como afirmar nossa individualidade enquanto evitamos um beco digital sem saída, de nossa própria criação.
Em sua mais recente exposição na Mendes Wood DM, Eunnam Hong entra em diálogo consigo mesma. O diálogo que Hong conduz é, ao mesmo tempo, público e privado, e ocorre entre suas muitas versões em constante multiplicação: uma vida dupla multiplicada pelo segundo e pelo segundo sexo. Em suas pinturas, ela encena esses encontros em espaços vazios e livres de distrações, onde o processo de confrontar sua angústia e alienação fica livre para se desenvolver. São vazios produtivos, lugares para fazer um balanço. À primeira vista, eles lembram as fotografias de Deborah Turbeville ou as performances de Vanessa Beecroft: mulheres posando em lugares impessoais, reunidas em grupos elegantes, cujo glamour é inseparável de sua abjeção. Mas, ao permanecer diante dos trabalhos de Hong por tempo suficiente, é possível perceber que o que fervilha por baixo delas é muito mais inflamável do que a simples aparência de uma superfície lânguida.
Como mãe que trabalha, Hong é habilidosa em compartimentalizar, assumir um trabalho invisível e se tornar, por necessidade, mestre em se esconder à vista de todos. Em seu estúdio, a artista multiplica sua própria imagem ao se tornar sua própria modelo, colocando e retirando perucas, ternos e uniformes escolares. O jogo de gênero de Hong é casualmente queer, um ponto de identificação que é ao mesmo tempo profundo e carregado de leveza. A pose que ela mais assume é a de um jovem irritado: irado, saturado, dolorosamente ciente de sua desumanização pelo capitalismo, em uma busca desesperada por uma saída. Além da internet, não há um bom momento ou lugar para expressar esse tipo de sentimento, especialmente quanto mais sua vida se torna estabelecida. Mesmo assim, o que ela diria, então? "Às vezes eu me sinto como um homem", "Eu odeio ser vista apenas como mãe", "O mundo está FERRADO." Como expressar desilusão sem também moldar o algoritmo ao redor disso?
Ao longo da exposição, Hong oferece vislumbres de sua amplitude completa. Ela é contemplativa e engraçada em This Woman's Mukbang (2024), espiando por trás de uma tigela transbordando de uvas, com a sugestão de que vai devorá-las todas para nosso divertimento. Em uma pintura como Husbands (2024), o clima é mais sombrio e maduro. Como no filme de John Cassavetes do qual empresta o título, a artista e suas duplicatas encaram o resto de suas vidas, com os limites de sua ousadia confrontando o espectro da morte. Em vez de se voltarem para fora, Hong e seus clones formam um círculo secreto. Essas são pinturas que se retraem, mas apenas temporariamente, e com uma estratégia em mente. Elas estão traçando um curso para escapar além de seus limites, com seu senso de si totalmente intacto.
Eunnam Hong (n. 1979, Gangwon-do, Coreia do Sul) vive e trabalha em Nova York.
Hong se formou no Seoul Institute of the Arts. Exposições individuais recentes foram realizadas na Mendes Wood DM, Bruxelas (2024); Lubov Gallery, Nova York (2023); e de boer, Los Angeles (2022). Seu trabalho também foi apresentado em exposições coletivas em Four One Nine, São Francisco (2024); K11 + Art-Bureau, Xangai (2024); Champ Lacombe, Biarritz (2023); Lyles & King, Nova York (2023); e de boer, Los Angeles (2022). O trabalho de Hong faz parte da coleção do Institute of Contemporary Art (ICA), Miami.
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Eunnam Hong, Spelling, 2024
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Eunnam Hong, Authors, 2023
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Eunnam Hong, This woman's mukbang, 2024
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Eunnam Hong, Memories, 2024
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Eunnam Hong, POV, 2024
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Eunnam Hong, Beauty and the beast, 2024
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Eunnam Hong, Views, 2024
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Eunnam Hong, Husbands, 2024
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Eunnam Hong, Middle, 2024
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Eunnam Hong, Control, 2024
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Eunnam Hong, Performers, 2024
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Eunnam Hong, The Kitchen, 2024
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Eunnam Hong, Submission, 2024