Lamp black on sack cloth (love for fucksake) Michael Dean

Apresentação

As esculturas de Michael Dean têm a capacidade de transformar um espaço expositivo em um teatro, em uma ação. Elas nos fazem lembrar de personagens atuando em uma cena. Um conjunto de obras, que parece estar prestes a subir uma escada, demonstra como personagens e linguagem são centrais em sua prática. As esculturas na sala e nas paredes interagem com o espaço, formando um triângulo perfeito com o observador. O desenvolvimento orgânico dos alfabetos aprisionados em formas de concreto é ainda mais exaltado nesta exposição. O trabalho de Dean sempre encontra um equilíbrio entre forma e texto, com predominância de materiais como concreto e papel. Desta vez não é diferente. Nesta primeira exposição individual no novo espaço da galeria em Paris, o artista apresenta uma série de pinturas emolduradas por esculturas de concreto, subvertendo o próprio paradigma da moldura.

Esta série inédita de pinturas é construída com base em dois elementos que constituem a essência das obras do artista: a estrutura da escultura e o diálogo com o contexto. O tecido de saco de malha aberta evoca uma analogia com a função das hastes, que formam o esqueleto dos trabalhos. A tinta adere à tela da mesma forma que o concreto adere à grade de metal. Essa combinação de tinta e concreto torna-se ainda mais evidente. A cor tem aparecido em seus trabalhos de concreto há vários anos, inicialmente em esculturas monocromáticas e coloridas, e, como visto em exposições recentes em Nova York e Londres, favorecendo uma paleta cada vez mais policromática que adiciona uma maior profundidade semântica à forma de concreto. Seu método de aplicação da cor, espremendo-a de garrafas plásticas na superfície da escultura, é repetido nesta nova série de obras. O artista aplica a cor ao tecido com a mesma técnica.

Um tema recorrente surge da repetição, em itálico, da primeira letra da palavra "f***", em inglês. Esta letra "f" em itálico, repetida muitas vezes seguidas, transforma-se no número "8", o símbolo do infinito¹ . Esse símbolo de letra e movimento de braço é integrado a uma estrutura de tecido de saco, mas, em última instância, possui o preto denso, profundo e intenso típico dos materiais de construção. Essa série de letras é repetida tantas vezes que se torna um som e um objeto abstrato. Por meio da repetição e intensidade desse elemento, a linguagem se transforma em algo diferente, em uma dimensão suspensa entre símbolo e movimento, visível e invisível. Ela percorre as telas, molduras e esculturas de maneira rítmica, reverberando no espaço e conectando o visitante aos trabalhos.

A linguagem transmite uma sensação de dualidade: por um lado, é um elemento estático e escrito, enquanto por outro, se move com o som falado. Essa dimensão dupla da linguagem é refletida nas obras de Dean por meio da fisicalidade de suas figuras de concreto e das performances frequentemente criadas pelo artista como parte de sua pesquisa artística. Nesta série, o aspecto fluido da cor é destacado, harmonizando-se com as estruturas de concreto.

Na nova série do artista, a relação com a escultura é multifacetada. Em um aspecto, a moldura é usada de maneira tradicional, separando o que está dentro do mundo exterior. Mas ao mesmo tempo, no trabalho de Dean, os parâmetros da relação entre pintura e escultura, entre olhar e espaço, são subvertidos.² De alguma forma, podemos dizer que, se uma moldura "define" um espaço e seu interior, neste caso, a definição é gerada pela própria escultura.

— Lorenzo Benedetti

* Com sua origem em tinta e cinzas, a exposição Lamp black on sack cloth (love for fucksake) é uma meditação sobre linguagem, uma narrativa histórica sobre forma, carne, luto e protesto. No entanto, a palavra escrita se apresenta de maneira despretensiosa. O que acontece no palco da exposição é um devir—entre objeto, entre sujeito e ser. A mão que escreve se manifesta e transborda para o pano por meio de formas de concreto.

2 Podemos ver essa letra cursiva "f" como uma variação de um tema. Ao mesmo tempo, essa linguagem titubeante escorrega e se derrama em um gesto figurativo alcançado pela mão e pelo corpo do artista, ecoando também a estrutura e a metáfora de uma bola 8 como função, figura e símbolo de probabilidade e possibilidade, construída a partir de uma série de dualidades—de um para outro; de sorte e acaso; de vida e morte.

3 A pintura se torna assim escrita, da mesma forma como as esculturas de Dean se traduzem na mão de pintor que escreve. Isso também se manifesta na presença dos trabalhos e dos visitantes; os livros de bolso auto-publicados pelo artista se tornam instrumentos de medição. As páginas arrancadas pelas pessoas refletem a relação entre presença e ausência, uma metáfora de como, ao visitar uma exposição, você sempre "traz algo consigo".

Obras
Vistas da exposição