Track Changes by Plan B
Track Changes assume o modelo das exposições boîte-en-valise, que segue o programa da Galeria Plan B em uma retrospectiva e seleção subjetiva. De olho no passado e em uma tentativa de construir uma possível narrativa, esta exposição conecta diferentes posições da arte romena dos últimos 50 anos, traçando uma linha desde o regime ditatorial da era comunista, quando a arte teve que negociar a sua existência em um contexto de censura estatal (mais brando na década de 1960 e muito duro na década de 1980), passando pela transição pós-comunista dos anos 1990, quando o papel sociopolítico da arte assume seriedade, e chegando aos anos 2000, marcados por uma posição de autonomia e independência em um contexto mais amplo do campo internacional da arte.
A relativa abertura política vivenciada na década de 1960, após a sombria década de 1950, permitiu que os artistas exibissem trabalhos que não refletissem diretamente o discurso político oficial da época, artistas que – conforme sugere Octav Grigorescu – sonhavam com um lugar feliz da imagem. Esse tipo de arte vislumbrava um lugar autônomo em relação à realidade social e política, reativando uma conexão com a grande tradição da arte e do pensamento filosófico. As icônicas aquarelas de Victor Ciato, intituladas Moment 0 (o autoproclamado momento de um novo começo), as pinturas metafísicas de Sorin Campan, os espaços utópicos de Horia Damian e o universo mitológico de Octav Grigorescu são representativos desses anos visionários.
Uma vez impostas as restrições adicionais da nova ideologia ditatorial (após o retorno de Ceausescu da China e da Coreia do Norte em julho de 1971), o final da década de 1970 e o começo dos anos 1980 testemunharam o reestabelecimento de uma arte social e política, que respondeu de forma subversiva e corajosa ao difícil contexto da época. Artistas como Onucsan e Bone resistiram à pressão do regime com o uso da arte conceitual e da performance, enquanto Ioana Batranu reagiu contra essa sociedade fechada, corrupta e confusa com pinturas, seguindo as suas próprias ferramentas analíticas de filtro. Os artistas dos anos 1980 e 1990 abordaram persistentemente questões sociais e políticas, ao mesmo tempo que revigoraram seus trabalhos com uma visão poética, uma síntese que é aparente na obra do artista de diáspora, Belu-Simion Fainaru, mas que todavia permanece essencialmente política.
Ao lado de outras vozes da sua geração, Ciprian Muresan, Adrian Ghenie e Serban Savu se envolveram com o passado recente do Leste Europeu, para libertar a própria noção de história de falsificações ideológicas, para vinculá-la à experiência pessoal, ao acidente conceitual e à história da arte. Igualmente interessados nas questões globais e imunes das utopias de revolução e liberalismo, os artistas da geração dos anos 2000 construíram o seu discurso de uma forma um tanto metafísica e apolítica. Victor Man e Iulia Nistor (uma voz jovem da diáspora) lidam com a condição humana nessa era de incertezas e reimplementam uma linguagem da arte autônoma no contexto contemporâneo.
Os materiais visuais exibidos aqui oscilam entre questões metafísicas e políticas e são entendidos como respostas à mesma realidade e conectados dialeticamente. Os últimos 50 anos de arte romena estão seguindo, assim como outros chamados espaços periféricos o fazem, a estrada sinuosa de uma sociedade que passa de uma ditatura para a democracia e a globalização. Entretanto, independentemente da perspectiva na obra de cada artista, tendo a si ou ao mundo ao seu redor como pontos de referência, a forma de expressão que os une é poética. Nenhum dos trabalhos ilustra didaticamente um único ponto de vista, mas todos mostram uma grande capacidade em adicionar novos significados e camadas a cada vez e em cada contexto em que são exibidos. Talvez a qualidade desta exposição resida no seu próprio efeito-espelho que altera o contexto por trás das peças ao mesmo tempo que as mantêm como exemplos de um fluxo histórico circular, sempre transitando entre a condição autônoma e o engajamento político.
A Galeria Plan B foi fundada em 2005, em Cluj, România, por Mihai Pop e Adrian Ghenie. A Plan B funciona como espaço de produção e exposição de arte contemporânea e também como centro de pesquisa que enfatiza a arte romena dos últimos 50 anos, revelando trabalhos de artistas excepcionais, sem visibilidade internacional prévia. Desde 2008, a Plan B opera um espaço de exposição permanente em Berlim e é coordenada por Mihai Pop e Mihaela Lutea.
Sobre os artistas e as obras em exposição:
Ioana Batranu (nascida em 1960, vive e trabalha em Bucareste) aborda temas que são marginais em relação àquilo que costumava ser a cultura oficial na Romênia e os expressa com uma sensibilidade apurada, em uma alternância constante entre subjetividade e realidade. Ela trabalha com alguns temas recorrentes (interiores melancólicos, jardins fechados e latrinas) que, vistos em conjunto, formam uma imagem coerente do seu projeto pessoal: buscar o ponto no qual a quebra com o mundo e a tentativa de se sentir em paz com ele sejam simultâneas em sua existência. O conflito entre esses dois elementos leva a artista a sujeitos localizados na periferia da sociedade em que vive e nunca no seu centro. Como estudos para a série de pinturas a óleo intitulada Latrines (Latrinas), as aquarelas em exibição reconsideram a dura realidade do final da década de 1980, que coincidiu com a queda do regime comunista e a eclosão da Revolução de 1989. Os interiores sombrios e impessoais se tornam instâncias de um espaço público alienante, definido pela perda de privacidade e de uma estrita rotina diária.
Rudolf Bone (nascido em 1951 em Oradea, Romênia, vive e trabalha em Oradea) é um dos mais importantes escultores e artistas de performance de sua geração na Romênia. Ele está ligado ao contexto experimental do Atelier 35 de Oradea, um grupo de jovens do Sindicato dos Artistas Gráficos da Romênia que atuou nos anos 1980, de forma parcialmente underground, sem apoio político ou financeiro, desconectado de qualquer ideologia e até mesmo subversivo em relação ao regime comunista. A arte de Rudolf Bone é uma referência importante para se entender o experimentalismo e reconsiderar a prática escultórica na Romênia. Bone é excepcional em sua capacidade de combinar um toque leve e uma abordagem lúdica na produção de arte, com uma preocupação constante e profunda em encontrar uma verdade estável e única. Confrontando a realidade política e social da era de Ceausescu, seu trabalho foi ganhando um tom cada vez mais subversivo.O artista cultiva um interesse consistente pela especificidade de diferente materiais. Já trabalhou com elementos tão diversos quanto areia, terra, barbante, vídeo, fotografia, fundição de alumínio, plantas e peixes vivos, expandindo sua prática escultórica para a performance. Interessado na ideia de arte em andamento e no caráter efêmero da obra de arte, Bone muitas vezes recorre a vidros quebrados nos seus happenings, tais como em Haiku, realizado pela primeira vez em 1986. Neste trabalho, Bone lida com uma das ideias centrais de seu processo de criação artística: o vínculo entre o artista e a sua própria criação, para a qual ele estabelece um potente contraponto. O objeto efêmero não tem chance de se tornar em cult. O efeito acústico do vidro quebrando carrega uma forte mensagem: a força do momento fica impressa na profundeza da percepção do espectador. O envolvimento do próprio artista nos seus happenings nos anos 1980, na Romênia, serviu como um chamado de participação e envolvimento.
A obra de Sorin Campan (nascido em 1940, vive e trabalha em Cluj, Romênia) alcança sua aparência de simplicidade por meio de uma reflexão sutil sobre os instrumentos da pintura e sobre uma série de desvios. Sua articulação enigmática exige uma leitura paciente. Imagens simples, tais como paisagens noturnas ou naturezas mortas com frutas, são pretextos para inserir mistério, para sujeitá-las a uma espécie de ordem que não coincide com sua tradução ou explicação. Para além da sempre surpreendente dosagem de transparência e sigilo, a qualidade da pintura – a austeridade dos meios e seus cromáticos quase sempre exuberantes – fazem de Campan um artista extraordinário.
Victor Ciato (nascido em 1938, vive e trabalha em Cluj) é um dos poucos pintores abstratos romenos do pós-guerra que não se rendeu às pressões do Realismo Socialista. Pelo contrário, em uma reação contra o sistema opressivo, Ciato se desconectou da estética dominante marcada pela figuração e desenvolveu sua própria realidade artística com base na pura abstração. As duas aquarelas apresentadas aqui fazem parte da série Moment 0 (Momento 0), produzida entre 1966 e 1968. Após terminar os seus estudos no Instituto de Belas Artes Ion Andreescu, em Cluj, em 1964, seu Moment 0 representou um ponto de virada na sua prática artística, pois evidenciou um desejo de se libertar das normas acadêmicas e do lastro da pintura de culto ao proletariado e de reinventar – de uma forma verdadeiramente modernista – criando as suas próprias normas. Dessa forma, ele desenvolveu essa série de aquarelas abstratas, trabalhos que não tinham como intuito representar nada em particular. São abstrações puristas, de um colorido refinado. Hoje, o seu valor artístico é redobrado pela importância do exercício autoformativo, realizado naquelas circunstâncias. Em relação à arte da época, sua busca no campo problemático do não-figurativo pode ser entendida como um gesto radical de redefinição.
Horia Damian (1922-2012) nasceu em Bucareste, onde fez as suas primeiras exposições individuais antes de se mudar para Paris em 1946. Colaborou e dialogou com artistas tais como Fernard Leger, Constantin Brancusi, Auguste Herbin, Saldavor Dali e Ives Klein. A obra de Damian é embasada na tradição europeia de construtores de monumentos, admiravelmente exemplificada pelo seu compatriota romeno, Brancusi, em estruturas, tais como Coluna Infinita e Portão do Beijo. Por meio da escolha deliberada de seus sujeitos e de uma análise aprofundada de alguns poucos temas, Damian pode ser comparado a Christo, que também revela uma variedade infinita de ideias-objetos através de ciclos de trabalho. No entanto, diferentemente de Christo e Yves Klein – contemporâneo e amigo de Horia Damian –, Horia está, em última instância, preocupado com a intuição de uma ordem espacial extraterrestre. Damian criou esculturas monumentais e simbólicas, dando a elas uma perspectiva metafísica que as distingue de trabalhos contemporâneos de Arte Minimalista americana, feitos por nomes como Ronald Bladen, Robert Grosvenor ou Tony Smith.
Em 1975, ele construiu para o Guggenheim Museum, em Nova York, a escultura The Hill (A Colina). O diretor do museu na época, Thomas Messer, escreveu sobre as peças de Damian: “em todas elas, Damian visa essencialmente alcançar os mesmos resultados e todos os seus conceitos, portanto têm um significado paralelo dentro de sua obra completa. A arte de Damian, baseada em uma técnica impecável e uma preocupação obsessiva com materiais, não pode ser criticada pela falta de concretude. No entanto, apesar da escassez e redução de suas estruturas, interpretações minimalistas ou formalistas não são suficientes neste caso, pois as suas referências explícitas são o espaço celestial ao invés de terrestre, uma ordem mundial ideal ao invés de palpável e realidades sacrais ao invés de temporais”.
Belu-Simion Fainaru (nascido em 1959 em Bucareste, Romênia) vive e trabalha em Haifa, Israel. O trabalho de Fainaru usa uma vasta gama de técnicas, tais como escultura, instalação, desenho e vídeo. Seus trabalhos contêm várias camadas de significados que abordam a história judaico-romena e questões de identidade e de território. Embora sua predileção por esses assuntos seja indisputável, a obra de Fainaru também lida, indiscutivelmente, com temas humanos universais. De acordo com Dr. Daniel Wayman, da Universidade de Tel Aviv: Ao longo dos anos, o artista Belu-Simion Fainaru vem lidando com questões ligadas ao conceito do nada, que impulsiona a sua criatividade. As características monasticamente condensadas de seus trabalhos, a esparsa escolha de materiais, as formas e as cores limitadas (majoritariamente, preto e branco), bem como o uso da inscrição hebraica, direcionam o espectador a significados espirituais simbólicos e a questões filosóficas além da identificação do objeto físico presente. Em alguns dos objetos, derivados do conceito de ready-made, a tensão é criada pela interrupção de sua funcionalidade e pela desconexão com seu propósito útil. Esses sistemas de dualidade nos incentivam a questionar o presente existente, a identidade ou a realidade atual que nós apreensivamente abraçamos perante a ameaça do vazio e do nada. Assim como em Black Sea (Mar Negro), de 2008,, o líquido preto como tema recorrente na sua obra se refere à imagem do leite negro que aparece no poema de Paul Celan, Fuga da Morte: Leite negro da madrugada nós o bebemos de noite/ nós o bebemos ao meio-dia e de manhã/ nós o bebemos de noite nós o bebemos e bebemos. Como Celan, Fainaru combina contrastes criando uma rica realidade simbólica derivada do passado e do presente, do sagrado e do profano, da alma e do corpo. Tal qual o endereço meridiano de Celan que descreve uma busca simbólica de um mapa de sua infância em uma aspiração em encontrar um lugar que é não lugar – como no poema, onde ele se encontra de novo –, Fainaru combina objetos e imagens, cenas e memórias, que criam uma jornada interior e exterior em busca de identidade e lugar.
Adrian Ghenie (nascido em 1977, trabalha em Cluj e em Berlim) isola e abstrai episódios específicos da agitada história do século XX. Suas pinturas são repletas de história ao mesmo tempo que manifestam um forte desapego histórico: as cenas históricas são reconstruídas como imagens dialéticas trágicas ou cômicas, desconectadas de um contínuo cronológico, familiares nas suas referências, mas estranhamente elusivas como somas reconfiguradas dessas referências. Na sua suspensão, elas materializam intersecções acidentais do eu e da história.
Na pessoa e na arte de Octav Grigorescu (1933-1987) coincidem, de um lado, uma nostalgia tipicamente de vanguarda pelo primordial e pela veneração do elementar e, de outro, um gosto pós-modernista por deleites crepusculares e pelo pressentimento da morte. Nascido em 1933, Octav Grigorescu morreu em 1987, com apenas 54 anos de idade. No entanto, durante a sua curta vida, criou uma obra que marcou para sempre a arte romena do século XX. Como desenhista, xilógrafo e pintor, sua produção é fecunda.Octav Grigorescu mergulha nos seus devaneios arqueológicos, históricos, mitológicos, bíblicos e até mesmo rotineiros, filtrando sutilmente ecos de Da Vinci, Poussin e Hans von Marees, aos quais podemos acrescentar vários outros nomes. A memória também está em jogo no nível mais estrito da técnica, quando Octav Grigorescu recria a ilusão do palimpsesto, que é extremamente sugestiva precisamente em suas pinturas históricas, nas quais a evocação da temporalidade é uma necessidade e uma condição. O realismo integral sobre o qual Octav Grigorescu discorre em um dado momento significa a reabilitação da plenitude do mundo como um todo, que emerge da fascinante maldição do fragmento. Suas pinturas históricas e bíblicas são uma série de visões no sentido original e etimológico da palavra. Visões que tendem a captar momentos-chave na história da humanidade, em uma perspectiva unificadora que une os eventos cruéis da história com os tempos bíblicos.
Os trabalhos de Victor Man (nascido em 1974, vive e trabalha em Berlim e em Cluj) examinam os limites do entendimento a partir de uma perspectiva diferente: uma leve dosagem de referências contextuais incentiva e, ao mesmo tempo, torna incompleta uma elucidação do que acontece em suas pinturas e da natureza de seus incidentes diáfanos. Man retorna à infraestrutura sutil da informação e de indícios visuais que permitem que uma cena seja imaginativamente colocada em algum lugar e que seja entendida como representando “alguma coisa”, levando isso ao limite até que colapse sobre si mesmo. O distinto vocabulário visual de Victor Man é orientado por uma constante exploração dos paradoxos e contrariedades de seu próprio ser. Victor Man opera na profundeza da visão, no olho, no olho-útero que gera a visão das coisas, ou seja, as sementes, planos, esboços e croquis divinos. No seu trabalho, Victor Man incansável e obstinadamente procura um nível possível de operação, intervindo por meio da visão sobre a formação das coisas, em um nível de operação altamente espiritual e definitivo do encontro entre o olho e o útero, no qual a plasticidade da pintura é encontrada e, como alquimia, identificada com a plasticidade germinativa das coisas e da natureza. Uma prova adicional dessa busca e avanço heroico na sua trajetória, que Victor Man épica e heroicamente se prova capaz de alcançar, é uma pintura recente (2015-2016), chamada Early Paradise (Paraíso inicial), que representa um estudo para uma World Flag (Bandeira do mundo), uma excepcional pintura dentro de uma pintura na qual a representação é explicitamente alegórica. A ilustração dos ovos astrais e da cabeça ovular deformada buscando o seio materno, um ovo, um corte, um botão, uma gota de orvalho etc., culmina em um novo estágio da imaginação do descolorir, do sombreamento, desta vez simplesmente por meio do apagamento das cores, como em um trabalho de restauração, e o retorno, desse modo, transvisual, ao desenho que está embaixo, manchando a tela como apoio da realidade, que cria um flash na luz coberta, sombreada pela história. (extraído de um texto de Bogdan Ghiu)
Ciprian Muresan (nascido em 1977, vive e trabalha em Cluj) vira de ponta-cabeça a experiência contemporânea e, com ela, a autoridade da história da arte. Seus trabalhos distintamente irônicos lidam com a transição social da Romênia atual, com a substituição de valores como a tradição e a religião, mas também com a substituição da propaganda comunista pelo novo imaginário de uma sociedade consumista. A prática do vídeo sustenta um lugar especial na extensa produção de Ciprian Muresan, que também inclui desenhos, esculturas e instalações. Em Dog Luv (Amor de Cão) (2009), um dos seus primeiros trabalhos em vídeo comissionados para o Pavilhão da Romênia na 53a Bienal de Veneza, Muresan estabelece um debate social em um contexto teatral. Marionetes de cachorros pretos feitas à mão foram animadas com base em um texto da dramaturga Saviana Stanescu sobre os traços mais sombrios da realidade. O diálogo sobre tortura e execução gradualmente se transforma em uma dramatização das cruéis ações em discussão, e as relações de poder entre os cinco cachorros mudam dramaticamente ao longo da duração do vídeo, de solidariedade para violência. Ao vestir os personagens de preto, um método usado por manipuladores de marionetes para se esconderem da plateia, Muresan revela os cachorros como marionetes, colocando as marionetes e os seus manipuladores no mesmo palco, portanto redistribuindo igualmente a importância desses elementos e sequestrando o formato tradicional do teatro de marionetes.
Iulia Nistor (nascida em 1985, vive e trabalha em Frankfurt) lida com a potencialidade da incerteza e da desorientação, na qual a pintura se torna um instrumento epistemológico. Seu processo de pintura é uma constante negociação entre informar e descarregar a imagem e enfatiza a qualidade, ou seja, o caráter qualitativo da experiência, assim como o aspecto sensual das coisas. Os trabalhos de Nistor estão na intersecção da semiótica e do fenômeno visual, na qual uma linguagem significadora de imagens é incorporada a um campo sensual usando sobreposições e véus de tons para criar profundidade fenomênica. As camadas múltiplas e o processo de repetidamente adicionar e subtrair introduzem a dimensão do tempo, que contrasta com a urgência dos elementos expressivos e simbólicos. Coordenadas também determinam a posição em um espaço tridimensional da qualidade em E1 F8 P4 (2016) e em E7 W6 A3 (2016), fazendo delas peças de evidência, um formato de pintura a óleo em madeira com as mesmas dimensões, 40 x 50 cm/ 50 x 40 cm. Dessa forma, Nistor questiona as convenções de nossa percepção e pensamento para criar uma nova potencialidade do pensar. A artista cria imagens icônicas do efêmero ao mesmo tempo que tenta preservá-lo.
Serban Savu (nascido em 1978, vive e trabalha em Cluj) pinta o Novo Home – o tão esperado produto da sociedade comunista, criado no laboratório ideológico –, preso à melancolia de sua rotina de anonimato na transição para o capitalismo. A distância entre o ideal e o real carrega a imagem de tensões, pois Savu pinta a imagem de um mundo após a falência de um projeto histórico. Caracterizadas por empatia e exame minucioso, observação e abstração, redução e recomposição, suas pinturas são capazes de iniciar uma avaliação do momento presente entendido em um sentido amplo e histórico. Mais sombria do que a maioria dos seus quadros do cotidiano, a inquietante paisagem de Blackout (2016) é uma cena rara devido à ausência de uma figura humana, que, no entanto, está presente na silhueta fantasmagórica da parcialmente desmoronada torre de transmissão de alta voltagem. Abandonada na vasta expansão natural, a gigantesca estrutura ereta pelo homem funciona tanto como um lembrete da falência da tecnologia quanto como uma reflexão da humanidade em geral.
Miklos Onucsan (nascido em 1952, Gherla, Romênia, vive e trabalha em Oradea) trabalha em um viés conceitual, lidando com uma vasta gama de questões altamente pessoais, mas que também são capazes de adquirir uma ressonância ampla. Suas intervenções também trazem à mente um espírito a la Fluxus. Em suas própria palavras, seu trabalho não visa representar ou substituir a realidade existente, mas orientar nossa percepção por meio de alterações quase imperceptíveis daquilo que encontramos no mundo. Em Stiff Ballet for the End of the Century (Balé duro para o fim do século) (1996), Miklos Onucsan usa uma experiência real como ponto de partida: em um dia de muito calor, no meio das pessoas caminhando pela rua, uma criança solta um balão que começa a dançar no ar, conforme se esvazia. A partir daquele momento fugaz, Onucsan desenvolve uma performance realizada por um grupo de pessoas atuando de forma rígida, mas simultaneamente envolvidas em uma coreografia ativada pelos balões que elas seguram e soltam – uma dança livre, sem edições e imprevisível, dentro das coordenadas fixas e pré-definidas da performance, como um tributo poético ao século prestes a terminar, embasado em um ponto de vista tanto crítico quanto bem-humorado.
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Ioana Batranu, Melancholic Interior (corridor), 2013
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Sorin Campan, Peisaj de noapte, 1970s
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Victor Ciato, Momentul 0, 1966
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Horia Damian, Untitled, 1952
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Belu-Simion Fainaru, Black Sea, 2008
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Adrian Ghenie, Degenerate Art, 2016
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Octav Grigorescu, Sem título, 1960s
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Victor Man, Untitled, 2015 - 2016
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Iulia Nistor, Evidence, L7 F/W 0 P5, 2016
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Iulia Nistor, Evidence, E7 W6 A3, 2016
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Miklos Onucsan, Stiff Ballet for the End of the Century, 1996
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Serban Savu, Blackout, 2016