Noite Luiz Roque
The stuff that dreams are made of
Da argila surgem as formas que Luiz Roque apresenta, após duas décadas criando imagens em movimento. As cerâmicas se parecem com acessórios, itens de vestir ou prender no corpo, objetos de poder. Os contornos zoomórficos das peças remetem a mundos passados ou a um futuro onde o plástico foi substituído pela lama. As esculturas não se apoiam no suporte clássico do pedestal, dependem da parede para a sua sustentação. Projetamos nosso imaginário sobre elas. Algumas foram criadas a partir da junção de partes separadas, em procedimento análogo ao da colagem. A chegada na cerâmica é coerente. Os primeiros ícones, as figuras que milênios mais tarde se transformariam no que hoje são as celebridades, foram moldados a partir do barro. Somente muito tempo depois elas seriam capturadas por meio de processos fotográficos. O movimento do artista é, portanto, uma arqueologia de mídias, um tipo de retorno.
Uma loja chamada Sexo
O reino da sexualidade foi construído sobre um grande mercado. O aplicativo de encontros mais popular entre a população gay empresta seu título à nova série. As peças estão acompanhadas de dois trabalhos que investigam de modo mais explícito a sexualidade. Se o fotograma Brest é um elogio ao orgasmo, República, obra comissionada pelo Pivô em parceria com o Passerelle Centre d’Art Contemporain, perturba nosso entendimento sobre o gozo. Em tom documental e com imagens captadas em vídeo e Super-8, o filme gira em torno da performer Marcinha do Corintho. Marcinha foi pioneira na travessia atlântica que tem levado incontáveis travestis brasileiras à Europa. A obra é também uma homenagem ao bairro central de São Paulo e sua praça ocupada por trabalhadoras e trabalhadores do sexo. Os fluxos migratórios sexuais e de gênero estão no centro da narrativa. A janela de exibição redonda faz referência ao “círculo encantado” que distingue os atos sexuais em uma valorização hierárquica[1], e quem habita os limites externos deste círculo, irá expor-se aos holofotes da moda ou da polícia. As implicações subversivas do estilo são fabricadas à noite.
– Leo Felipe
[1] RUBIN, Gayle. Pensando o sexo. In Políticas do sexo. Trad. Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Ubu Editora, 2017.