Solange Pessoa
A Mendes Wood DM tem o prazer em apresentar a primeira mostra individual da artista mineira Solange Pessoa na galeria. Formada pela Escola Guinard da Universidade do Estado de Minas Gerais, onde leciona escultura desde 1993, Pessoa carrega em sua trajetória artística um forte diálogo com a tradição barroca de Minas Gerais, sem que com isso acabe por produzir anacronismos ou meras revisitações de uma tradição muito inserida no contexto sócio-cultural da artista.
O trabalho de Pessoa desponta por sua densidade e abundância dando a impressão de que estamos diante de um composto orgânico, repleto de pulsões de vida e morte; a matéria parece querer a todo instante transpor a forma que a contém. A artista nada numa tradição onde existe uma linha tênue de controle e descontrole entre o automatismo e o transe, e o consciente e inconsciente. Seu trabalho, da mesma forma que mergulha profundamente no cerne animalesco e selvagem do ser humano, cria acesso a um lugar de esquecimento, a uma estética primordial que é revisitada a partir de seus traços rupestres e das cenas ligadas a tríplice dos reinos humano, vegetal e animal.
É importante entender que isso não reside no campo estético somente, não se trata de uma síntese do rompimento da artista com a forma geométrica tão pesquisada por sua geração. Num plano metafórico, a obra de Pessoa propõe um deslocamento no tempo, mas sem se limitar a uma referência a um passado, pelo contrário, suas obras se apresentam como reminiscências, como um estágio anterior não apenas a ordem, mas a própria necessidade de ordenação dos sentidos.
A essência de sua prática precede a supremacia do formal, é uma arte pré-moderna e pré-modernista, seu trabalho vive num silêncio em que as formas parecem estar em latência. Sua obra é subversiva em todas as suas instâncias, desfoca qualquer escola e atributo e ao mesmo tempo dialoga com elas organicamente. É precisamente aí que a artista se coloca num território único, pré-linguístico, totêmico. É por isso que seu trabalho é universal e ao mesmo tempo tão estranho a qualquer contexto da arte contemporânea.
Nessa primeira exposição de Solange na galeria figuras espectrais desejam viver. São feitos de uma vontade ancestral de materializar-se no mundo dos sólidos e parecem feitos de fogo, terra, água e vento. As esculturas de pedra sabão, desformes, barrocas, nos lembram uma certeza de um sentido metafisico da ferramenta pré-histórico, enquanto que os desenhos e pinturas o primeiro gesto. Esses seres nos inspiram e maravilham em suas silhuetas de uma dança erótica e cosmológica. Não sabemos ao certo o porque dessas formas, como surgiram e se estão desfazendo frente ao nosso olhar.
Solange Pessoa (Ferro, 1961), vive e trabalha em Belo Horizonte, Brasil. Desenvolve pesquisas em diversas linguagens, como escultura, instalação, cerâmica, desenho, video etc. Suas mostras individuais incluem: Metaflor-Metaflora, Museu Mineiro, (Belo Horizonte, 2013), Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, 2008), Museu da Inconfidência (Ouro Preto, 2000), Palácio das Artes (Belo Horizonte, 1995), Centro Cultural São Paulo, (São Paulo, 1992). Pessoa recebeu a bolsa da The Pollock Krasner Foundation (EUA, 1996/1997), além de ter diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior, tais como: Arte e Patrimônio, Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2014), Mostra do Redescobrimento, CAPS Musée d'Art Contemporain (Bordeaux, França, 2001), Heranças Contemporâneas, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (São Paulo, 1999), Encontros e Tendências, Museu de Arte contemporânea de São Paulo, (1993). A relação com o patrimônio sempre existiu em seu trabalho, possuindo obras permanentes em lugares com: Jardim do Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, 2008) e Capela Nosso Senhor do Bonfim (Santa Bárbada, 2004).