Lágrima Sonia Gomes

Apresentação

Só foi possível dar nome a esta obra quando ela foi concluída. Comecei a refletir sobre o nome e a partir da forma da gota me veio a palavra Lágrima. Ela foi concluída na primeira quinzena de março de 2020, a última obra concluída antes do isolamento social. Fechamos o ateliê com ela exposta na parede por dois meses. O mais interessante é que este foi o último trabalho que fiz antes da pandemia. Mal poderia imaginar que o mundo fosse chorar tanto

Mendes Wood DM tem o prazer em apresentar a última exposição no espaço da Rua da Consolação com a exposição individual da artista Sonia Gomes. A mostra reúne cinco trabalhos produzidos durante a pandemia em 2020.Por quarenta anos de produção, Gomes torceu estruturas de aço com o movimento do seu corpo, preencheu essas estruturas com tecidos, esticou e suturou as superfícies desses corpos. Esse exercício de força começa sem um fim, é silencioso e aparentemente intuitivo, acompanha um pensamento não linear da escultora, que revela aos poucos possibilidades até antes desconhecidas para um corpo, resultando em o que ela chama de ‘uma abstração radical da imagem’. Seu trabalho é carregado de memória, mas também de um método e sequência de detalhes que envolvem instrumentos, materiais de trabalho e estudos antes do seu início. O que por vezes é entendido como intuição é na verdade uma conversa entre a artista e o seu método, essa rigorosa regra seguida em seu ateliê é também fundamentalmente fluida e poética.

A mostra gravita ao redor de um trabalho intitulado ‘Lágrima’ finalizado durante a pandemia em 2020. O tecido azul com detalhes brancos é cortado por um volume característico da escultura de Gomes, composto de diferentes texturas e formas em sua superfície. Conhecida por suas antagônicas combinações, a artista constrói o ponto de convergência entre todas as diferentes possibilidades e combinações das memórias impregnadas nos tecidos. Os trabalhos seguem um processo de destruição, sendo esse o primeiro momento do método de Gomes: ela rasga, amassa, quebra para então construir seus corpos, esse entrópico movimento é o que alimenta a radicalidade da artista, entendido por ela como fundamental. A perca do controle sobre as histórias que vivemos é o que Gomes reclama à mostra, a materialização dos sentimentos mais viscerais em forma de lágrima.

A exposição se desenha entre torções e pendentes, trabalhos de parede e um novo estudo da artista – uma instalação de luz. Em uma sala escura também destruída pela artista, uma gaiola projeta na parede suas sombras, o trabalho existe como uma ferramenta para a construção da imagem em sombras, uma espécie de contra-imagem da liberdade vista em uma gaiola aberta e radicalmente quebrada. Esse trabalho parte de uma série chamada ‘A vida não me assusta’ tirando o título de um poema de MayaAngelou esta série de obras revelou-se um processo intenso para Gomes, que afirma que ‘o ato de quebrar estas gaiolas é para mim um exercício de liberdade por meio de gestos’.

Os tecidos biograficamente carregados se entrelaçam de maneira tátil e orgânica, à medida que experimentam novas e vibrantes formas de existência. Gomes expõe seu olhar sobre o sofrimento ao mesmo que a esperança, dando espaço para o dizer das cores, celebrando a vida desses corpos livres e radicais, usando a memória – sua ferramenta mais importante – como suporte para a escultura.

Sonia Gomes (Caetanópolis, 1948) vive e trabalha em São Paulo.

Suas exposições individuais incluem I Rise – I’m a Black Ocean, Leaping and Wide,Museum Frieder Burda e Salon Berlin, Baden-Baden/Berlin (2019); Silence of color,Mendes Wood DM, Brussels (2019); Still I Rise, MASP - Museu de Arte de São Paulo /Casa de Vidro, São Paulo (2018); A vida renasce, sempre, Museu de ArteContemporânea de Niterói, Rio de Janeiro (2018). Seu trabalho foi apresentado emdiversas mostras coletivas, entre elas: magens que não se comportam, MAR – Museude Arte do Rio, Rio de Janeiro (2021); Gwangju Biennial, Gwangju (2021); LiverpoolBiennial, Liverpool (2021); Unconscious Landscape Works from the Ursula HauserCollection, Hauser & Wirth, Somerset (2019); Experimenting with Materiality, LévyGorvy, Zurique (2019); Histórias Afro-Atlânticas, MASP, São Paulo (2018); OTriângulo Atlântico, 11a Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre (2018);Tissage, Tressage, Fondation Villa Datris, L'Isle-sur-laSorgue(2018); Entangled, TurnerContemporary, Margate (2017); Revival, The National Museum of Women in the Arts,Washington, USA (2017); 56a Biennale di Venezia, Veneza (2015).

Obras
Vistas da exposição