Antonio Obá
óleo sobre tela
74 5/8 x 104 7/8 in
A água, dentro do imaginário do artista e na série que ele intitula banhistas, remonta um mosaico de situações que se interrelacionam que vão desde ritos em pias batismais (presente em incontáveis iluminuras medievais), até a superfície translúcida, a qual uma criança milagrosamente caminha (ver a pintura Wade in the water). Nessa perspectiva, a água simbolicamente é a substância que condiciona ritos de passagem, renovação, milagres. Onde o corpo se lava e faz-se outro.
Um irônico batismo onde a menção de uma agressão e segregação serviu de base para fomentar outras forças : resistência, bravura e, porque não dizer, ferocidade.
Ante a paisagem pacífica e imóvel do hotel, avoluma-se uma piscina com ondas revoltas, turbilhonantes, um ambiente quase hostil a um nadador despreparado que, todavia, parece ser convidado pela rampa branca no canto inferior da obra, a saltar num mergulho, porque não dizer, vertiginoso nas águas intranquilas da história. Em contraposição à turbulência aquosa, porém, três figuras humanas boiam tranqulamente, como se elas próprias gerassem essas ondas, ou a elas estivessem irmanadas, habituadas. Tres personagens, sendo que dois, aparentando mais idade, parecem fazer a guarda de uma criança que ainda está aprendendo a nadar nessas águas, uma vez que está com touca e óculos de proteção.
Hábeis nadadores que nos encaram e encenam a mesma pose de tocaia dos crocodilos. Esse fato é reforçado pela presença do réptil na piscina. Ele não ataca os nadadores; parece, inclusive, esquivar-se, fugir da presença deles. Como se os próprios nadadores fossem dotados, por uma façanha, da mesma ferocidade do crocodilo, ou a ele irmandaos.
A sagração batismal por meio da dor e sacrifício.