Remanso Eleonore Koch, Linda Kohen, Anna Livia Taborda Monahan, Rayana Rayo e Paula Siebra
A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição coletiva Remanso com trabalhos de Eleonore Koch, Linda Kohen, Anna Livia Monahan, Rayana Rayo e Paula Siebra. Suas pinturas expõem o que lhes é intrínseco, conduzindo o olhar a territórios silenciosos, densos e simbólicos. As obras iluminam espaços domésticos, corpos, objetos e representações da psique e do feminino, criando uma constelação de símbolos que traduzem um cotidiano particular e ao mesmo tempo compartilhável.
Remanso reúne uma constelação intergeracional de artistas de diferentes regiões geográficas e trajetórias únicas, que se encontram no ofício da pintura em pequena escala. Telas a princípio discretas, carregam uma profundidade que transporta o espectador para dentro de si: evocam lembranças, sonhos, medos e incertezas. Este diálogo sensível se torna ainda mais potente ao ocupar a Casa Iramaia, originalmente uma residência familiar, que com sua atmosfera introspectiva acolhe e amplifica essas narrativas visuais, como se fosse extensão das próprias obras.
Partindo da ideia de representar os mistérios da vida e da morte, Linda Kohen (1924) desenvolve uma pintura extremamente metafísica, poética e sensível. A artista ítalo-uruguaia trabalha em séries que retratam o cotidiano e a intimidade de sua vida pessoal, explorando temas como a solidão e a ausência, através de uma paleta suave de brancos e ocres, e da translucidez criada por tintas diluídas. Em El pecho II (1981) e El pecho III (1982), Kohen nos empresta o seu ponto de vista sobre o próprio corpo e o entorno, em um mergulho em sua interioridade. A presença de uma tela vazia no canto de El pecho III sugere a pintura como prática solitária e imersiva, como uma extensão do próprio corpo.
Ainda que separadas por décadas e geografias, há uma ressonância evidente entre Kohen e Paula Siebra (1998). Com um vocabulário visual desenvolvido a partir de memórias íntimas do Ceará, onde a artista nasceu e ainda vive, Siebra constrói suas telas através de um olhar paciente e uma familiaridade. Tons de cinza, bege e ocre transmitem a quietude e solidão do objeto em Jarra (2025). A transparência que se estende para fora das limitações somada ao tecido protetor acima dele, criam uma atmosfera comum e familiar. Através da construção de camadas finas que suavizam contornos, reduzem contrastes e moderam tonalidades, a luz flutua entre o objeto e espaço, como se a artista cartografasse o tempo vivido — entre hábito e reminiscência.
O cotidiano na obra de Rayana Rayo (1989) se apresenta com outro semblante: paisagens e personagens surgem através de um viés fabuloso, quase mágico, resultando em abstrações figurativas. Suas obras são mergulhos profundos em sua interioridade, ecoando em formas e seres que remetem a seres marítimos da era paleozoica. As pinturas O mar no meio, Enquanto as horas passam e Fabulações entre terra, água e ar (2025), compõem uma narrativa visual que alterna entre comunhão e separação, entre seres que buscam convivência e autonomia. Sua paleta de cores coesa e texturas distintas corroboram para a criação de uma narrativa sobre o seu íntimo.
Na obra de Anna Livia Taborda Monahan, o fantástico assume contornos igualmente vívidos criando narrativas surreais. Cobras e enguias entrelaçadas, peixes e crocodilos em conexão e carcaças de animais se entrelaçam em cenários oníricos e vibrantes, como em Cobra e Enguia I (2025). Na obra, os dois animais se enroscam em um espaço delimitado formando uma espiral de comunhão, sugerindo uma força criativa e energia vital. Às vezes em espaços externos, outras enclausurados, os animais de cores quentes e contrastadas de Monahan remetem à sua pesquisa acerca de animais de variadas espécies e fazem alusões ao seu mundo interno.
Eleonore Koch (1926–2018), por sua vez, propõe um olhar silencioso, mas não menos intenso. Suas paisagens, marcadas por cores contrastantes e composições depuradas, falam da ausência, da interiorização e da subjetividade. A artista, nascida na Alemanha e radicada no Brasil, foi uma observadora silenciosa do mundo ao seu redor. Em Vaux Le Vicomte (1981), transforma uma vista do palácio francês em uma imagem quase abstrata, composta por blocos de cor que delimitam o espaço e ao mesmo tempo sugerem um lugar vazio e familiar. Sua pintura é um convite à contemplação interna e externa.
Remanso propõe um encontro sensível entre artistas que expandem a concepção de cotidiano, intimidade e subjetividade, sem delimitá-las a um estilo ou conceito. A exposição propõe um olhar atento e uma escuta silenciosa às vozes que se encontram, ecoam e nos sensibilizam na Casa Iramaia. Em suas obras, o íntimo é desvelado sobre a tela com coragem, revelando o que é particular e inestimável em um contexto social que historicamente limitou as expressões femininas, especialmente na pintura.