Apresentação

Phoebe Collings-James apresenta At the end of the small hours (No fim da madrugada), sua primeira exposição individual em Bruxelas.

A mostra reúne diversas esculturas em cerâmica, pertencentes a séries distintas, mas conectadas por uma narrativa onírica em constante transformação. Reflexo de uma constelação de ideias, os trabalhos incitam e provocam o espectador a conceber – ou sonhar – territórios possíveis, como os evocados na poesia de Aimé Césaire, na arte visual de Beverly Buchanan ou na música de Barrington Levy, entre outras influências que atravessam a pesquisa e o repertório da artista.

Ao utilizar sonhos como ferramentas decoloniais, Collings-James investiga a relevância da cerâmica na sociedade contemporânea por meio de instalações que estimulam conexões dentro e além do espaço conceitual. Em um jogo de cores dominado por pretos profundos e azuis intensos, os trabalhos evocam um luar cintilando sobre a água, capturando a qualidade fugidia do crepúsculo e o intervalo entre realidade e devaneio.

A série Infidel (Infiel), um núcleo central revisitado na exposição, é definida como uma antologia herética composta por criaturas em procissão. Ao mesmo tempo impactantes e frágeis, as esculturas apresentam figuras sem braços, com bicos salientes, equilibrando-se precariamente sobre curvas ondulantes ou pontos mínimos de apoio. Inspirando-se nas técnicas em cerâmica da África Ocidental e do Caribe para modelar recipientes rolantes, Collings-James concebe Infidel como um receptáculo de ensinamentos nacionais, políticos ou espirituais. O título contundente da série remete ao arquétipo histórico do revolucionário ou descrente, reivindicado aqui como uma celebração do outsider. A questão da agência ressurge na disposição dos trabalhos no espaço, pairando juntos ou movendo-se lentamente, sem um propósito evidente – vagar como forma de resistência. Assim, At the end of the small hours propõe um engajamento que ultrapassa dimensões fixas, desdobrando-se em relação ao mundo ao nosso redor. O convite é para habitar e pertencer, como participantes ativos no fluxo entre o “nada e o ser das coisas”. [1]

Narrativas de inclusão e exclusão compõem o pano de fundo de outro conjunto de obras apresentadas na exposição. a mouthpiece for Terry (um bocal para Terry) (2025) dá continuidade à investigação de Collings-James sobre som e expressão musical, frequentemente incorporados em suas instalações. Nesta série (supostamente) silenciosa, nomeada em homenagem ao artista e músico norte-americano Terry Adkins, bocais de latão, extraídos de instrumentos musicais, emergem de esculturas em argila vermelha crua. Esse conjunto musical atua como um instrumento para vocalizar uma linhagem de diferentes saberes e criar uma sinfonia de memórias ligadas a histórias políticas negras e feministas.

Contar histórias por meio da cerâmica permite tanto rememorar quanto antecipar outras formas de crença, para além daquelas contidas em sistemas estruturados. Uma série de pinturas em argila dispostas nas paredes da galeria se apresentam como a alegoria de uma sequência de sonhos. Inspiradas nas tábuas de argila usadas como escrita pela civilização babilônica, as imagens desses trabalhos são baseadas em fragmentos de memórias oníricas captadas entre o sono e a vigília, evocando cenas e questões políticas por meio de uma simbologia indecifrável. A metáfora paradoxal da Babilônia – evocada ao longo da história como uma metrópole utópica, mas consumida pelo fogo de sua própria emancipação cultural – permite que Collings-James estabeleça vínculos com a diáspora negra e experiências queer, entrelaçando saberes para além das hierarquias de representação. Por fim, black black rose (preto preto rosa) (2025) introduz um motivo recorrente de lembrança, depositado como oferenda ao longo da exposição – um marco sobre o ato de seguir adiante, tanto como artista quanto como testemunha.

 

 

Phoebe Collings-James (n.1987, Londres, Reino Unido) vive e trabalha em Londres.

 

Suas exposições individuais recentes incluem In Practice, Sculpture Center, Nova York (2024); bun babylon; a heretics anthologyArcadia Missa, Londres (2023); A Scratch! A Scratch!Camden Art Centre, Londres (2021); Relative StrengthArcadia Missa, Londres (2018); Expensive Shit315 Gallery, Nova York (2017); ATROPHILIA (with Jesse Darling) and Company, Nova York (2016). 

 

Suas exposições coletivas recentes incluem Self Made: Reshaping IdentitiesFoundling Museum, Londres (2024); Conversations, Walker Art Gallery, Liverpool (2024); In and Out of Place. Land after Information 1992-2024Kunstverein Hamburg, Hamburgo (2024); Oh téléphone, oracle noir (...)Le Magasin CNAC, Grenoble (2023); Phantom SculptureMead GalleryWarwick Arts Centre, Coventry (2023); Unearthing: Memory, Land, MaterialityThe Courtauld Gallery, Londres (2023); Body Vessel ClayTwo Temple Place, Londres (2022); York Art Gallery, York (2022); Produktive Bildstörung. Sigmar Polke und aktuelle künstlerische PositionenKunsthalle Düsseldorf, Dusseldorf (2021); You Feel MeFACT Liverpool, Liverpool (2019); In Whose EyesBeaconsfield Gallery, Londres (2018); Okey DokeyGalerie Max Mayer, Dusseldorf (2017); and Bust Wide Open, Harlem PostcardsStudio Museum Harlem, Harlem (2017). 

 

Phoebe’s works are in major public collections including Arts Council of England, London; KADIST Foundation, Paris; York Art Gallery, York; Southampton City Art Gallery, Southampton. Performances and screenings include Getty Museum, Los Angeles (2019); Sonic Acts, Amsterdam (2019); Café Oto, London (2019); and Palais de Tokyo, Paris (2018).

 

Collings-James runs Mudbelly Teaches, a free ceramics course for Black people in London, taught by Black ceramicists and artists.

 

 



[1] [1] “(…) art requires and allows us to linger, in the exhausted, exhaustive space between something and nothing, nothing and everything, so that we can begin to understand again, how the interrelation of wealth and poverty is all bound up with the question, which is to say the study, in things, of nothingness and thingness” (A arte exige e nos permite demorar-nos no espaço exausto, exaustivo entre algo e nada, nada e tudo, para que possamos começar a compreender de novo como a inter-relação entre riqueza e pobreza está intrinsecamente ligada à questão – ou melhor, ao estudo, nas coisas, do nada e do ser das coisas.) Fred Moten, Black and Blur (Durham, NC: Duke University Press, 2017)

Obras
Vistas da exposição