Mira Schendel
óleo e gesso sobre juta
47 1/4 x 39 3/8 in
A adição de areia, gesso, cacos de vidro, serragem e etc. sobre óleo ou têmpera e a experimentação com tintas e resinas industriais proporcionaram a Mira novas possibilidades para as superfícies de suas pinturas, o que enfatizaria sua materialidade. Muitos desses experimentos nunca foram expostos, pois Mira os distribuiu para amigos. A principal característica destas obras é a espessura da massa pictórica que cobre a tela.
No começo da década de 1960, Mira tendia a investigações mais abstratas e menos figurativas em comparação com as da década de 1950 (como obras abstratas geométricas e naturezas mortas). Embora essa nova postura pudesse ser vista relacionada ao movimento concretista paulista, a compreensão metafísica da cor, observada pelo crítico Mário Pedrosa, aproximou-a dos artistas cariocas. José Geraldo Vieira, também crítico de arte, chamou a atenção para a passagem de uma fase “trágica”, “melancólica”, “kafkaniana” para uma arte “mais civil” e “mais arquitetônica”. Além disso, as formas geométricas tornaram-se progressivamente irregulares e assimétricas em relação às bordas do suporte e transmitem intensidade emocional, fugindo assim dos princípios gerais do Concretismo.
As obras de Mira desse período assemelhavam-se às pinturas italianas da década de 1960, reforçando o termo matéricos. O vínculo familiar com a cultura milanesa e o contato com a vanguarda italiana por meio das Bienais de São Paulo marcaram o desenvolvimento de sua pesquisa pictórica. Obras de Alberto Magnelli, Lucio Fontana, Giuseppe Capogrossi, Renato Birolli e Alberto Burri foram expostas na Bienal em 1955, 1957 e 1959. A forma de pintar de Mira era semelhante à dos milaneses, então chamados de astratto-concreto, mas diferiam em seu desenvolvimento. Enquanto os italianos tendiam ao lirismo, Mira parte do Construtivismo brasileiro, o que resultaria numa arte antidecorativa, distante de qualquer concessão ao gosto.