Batatas-Pedras Wilfredo Prieto
Podemos auferir que o conjunto de trabalhos apresentados por Wilfredo Prieto em sua primeira exposição na galeria Mendes Wood DM se estabelece nos alicerces da dualidade. Os objetos distintos que ecoam em cadeia, por vezes intermitentes e por muitas peremptória transferem ao espectador um silêncio que instiga e incomoda por seu grito. São partículas oriundas de um trabalho de observação intenso por parte do artista que nos subverte os sentidos ao apresentar um apanhado de objetos que nos levam ad infinitum ao valoroso ato incondicional do eterno especular. De forma sutil ele nos dá pistas para que possamos desvendar as distintas variações que ressoam dos tropeços da comunicação contemporânea. O caráter do imediato que se faz necessário quando defrontamos com o isso e o aquilo apresentados no espaço expositivo se assume e toma forma em pequenos projetos repletos de um pensar que nos inspira e nos move a confrontar o que de súbito nos parece efêmero mas que, em outra escala, nos oferece todas as ferramentas para, que de alguma forma possamos solidifica-los de forma perene em nossa retina.
Se para Freud a essência do humor é poupar afetos, podemos a partir disso defrontar um artista que não se reduz aos simples anseios de nossa compreensão e que, de alguma forma, nos provoca através das zonas infinitas por onde transita o seu olhar sobre os objetos. Ocasionalmente esse caminho reflete o gosto ácido e certeiro do chiste que, nunca por engano é algo bastante caro à sua narrativa. Todavia Prieto é assertivo em nos conduzir pacientemente de forma a nos fazer oscilar por entre sua maneira apolítica de conceber o debate – forma esta que invariavelmente pode também nos ser útil quando de uma necessária e usual tomada de posição ao reconhecermos um trabalho de arte - não nos poupando nenhuma das hipóteses por este sugeridas.
Há um enfrentamento metafísico em Batatas-Pedras que se estende logo na entrada da sala. Ali, no solo, o insidioso terreno onde se dá o embate que acaba por modular o caminhar do passante por toda a exposição o artista nos intercede para que pisemos cautelosamente esse chão apinhado de sinuosos questionamentos. Ao trespassar esse campo o espectador se defronta com Cabeça de caminhão, Cabeça de porco e toda a suntuosidade dessa instalação que de imediato se contrapõe ao minimalismo dos outros trabalhos expostos. Esse maniqueísmo – tão singular na produção do artista - aqui nos leva a compreender as várias quimeras desse espelho utópico de releituras e sugestões sobre a condição humana e sua frágil teia de convicções. Em Billetes perdidos (Ángulo muerto / Dead Angle) de 2006 o encantamento da verve de Prieto nos sugere refletir sobre os anseios infinitos nas variantes inexoráveis da eterna busca que se insinua e ao mesmo tempo se afasta um tanto mais da fortuna do real e do palpável.
A linguagem de Wilfredo Prieto e seu repertório tão plural nos faz olhar cautelosamente os ângulos esquecidos pelo vicioso exercício do nosso olhar. A praxe do enfrentamento entre o descartável e o urgente – que por inúmeras vezes se dispõe na supressão do pensamento mais profundo atualmente refletido por nossos pares na sociedade - aqui se desdobra em uma narrativa que instiga à investigação dos incontáveis significados do campo linguístico. A complexa teia de contradições, tão presente no universo de sentidos expostos por Prieto se deita sutilmente nos cânones do minimalismo. Entretanto, ao deitarmos o nosso olhar com maior cautela sobre esse acúmulo de objetos, perceberemos que por este veio flui além da crítica profunda a nossa afeição pelo excessivo apego ao material também o apontamento da distração a que nos submetemos quando da percepção do que se faz necessário aos mecanismos que exploram os mais variados sentidos do nosso olhar. Podemos por fim voltar o nosso olha para uma certa atenção ao pensamento apolítico que aflora dos questionamentos do artista e também para o estudo sistemático da condição humana que sugere, desde sempre, os contornos de uma inquestionável produção que se faz necessária ao monocórdio de nosso tempo.