Betty Woodman
Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a primeira mostra individual da artista americana Betty Woodman na América Latina. O universo que nos é apresentado no projeto faz parte de mais de 50 anos de aprimoramento e expansão de suas técnicas, bem como de sua pesquisa sobre os limites entre a pintura e a escultura e as relações entre a forma do vaso como um objeto contemplativo e pictórico.
O foco de sua produção anterior estava calcado na história e na função da cerâmica, tendo na confecção de vasos a sua marca registrada. Embora Woodman não tenha em momento algum abandonado a cerâmica, seus trabalhos mais recentes nos mostram que hoje seu interesse extrapola a preocupação com a função do objeto, e passa a considerar a pintura como uma parte essencial de sua obra. Em Aztec Vases, combinando pintura e escultura, a artista dispõe um vaso sobre um tapete de lona também pintado. Woodman cria, dessa forma, uma pintura assemblage, na qual a tela representa uma mesa e o vaso completa o cenário. Inspirado por uma escultura de pedra pré-colombiana de quatro lados, o vaso faz referência a composição cubista, que só pode ser desvendada a partir do caminhar ao redor do objeto.
A artista, ao mesmo tempo em que evoca uma tradição que se confunde com o próprio processo cultural da humanidade uma vez que a cerâmica é encontrada desde os primórdios das civilizações –, desafia esses elementos tradicionais de domínio da cerâmica se utilizando não apenas de argila ou barro, mas também de madeira, bronze e lona para compor suas obras. A narrativa construída, a partir desse desafio à tradição, é tão metafórica – se pensarmos na importância ritualística dos vasos em diversas culturas clássicas – quanto pragmática, já que a artista não rompe com o caráter funcional do objeto; seu esforço é o de atrelar sentidos à forma, ao conceito e a função. O resultado disso é notado por exemplo na série Swedish Venus: um vaso plano, e não cilíndrico, sem capacidade de conter algo, que permite à artista deixar uma de suas faces sem pintura, e na outra pintar um um corpo de mulher que emerge da própria sinuosidade do vaso. O resgate a simbologia antiga do feminino fica claro em suas próprias palavras: Em toda parte – em pinturas, esculturas, afrescos romanos, fontes – há geralmente algum tipo de vaso. Isso contém algo. É um símbolo universal para mulher.
Muito da inspiração de Woodman, provém de pinturas de parede romanas, que comumente retratam, dentro das residências, paisagens trompe l’oeil como representações do mundo exterior. A artista, entretanto, inverte essa dinâmica; a paisagem retratada em seu trabalho é uma paisagem doméstica. Ao dispor telas pintadas na parede, que por sua vez estão posicionadas logo atrás de um vaso, Betty Woodman nos coloca a perspectiva de quem olha uma janela de fora para dentro, criando assim um cenário intimo e familiar. Com esta pintura tridimensional, Woodman estabelece uma fantástica mise-en-scène a partir de uma imagem renovada dos prazeres da vida doméstica.
Betty Woodman (1930, Norwalk, Connecticut) viveu, trabalhou e lecionou em Colorado por quarenta anos e agora se divide entre estúdios em Nova York e Antella, Italia. Além de inúmeras exposições em galerias, suas mostras individuais includem: Places, Spaces & Things, Gardiner Museum, Toronto (2011); Roman Fresco/Pleasures and Places, American Academy in Rome (2010); L’allegra vitalità delle porcellane, Museo Delle Porcellane, Palazzo Pitti, Giardino di Boboli, Florença (2009); e Somewhere Between Denver and Naples, Denver Art Museum (2006). Suas mostras coletivas incluem: Playing House, Brooklyn Museum (2012); Postmodernism: Style and Subversion, 1970-1990, Victoria and Albert Museum, Londres (2011); Sèvres, Porcelaines Contemporaines, The Menshikov Palace, The Hermitage Museum, St. Petersburg (2010); e Dirt on Delight: Impulses that Form Clay, Institute of Contemporary Art, Philadelphia, e Walker Art Center, Minneapolis (2009).
As obras de Woodman são destaque em mais de cinquenta coleções públicas, incluindo o Stedelijk Museum, Amsterdam; Whitney Museum of American Art, New York; Los Angeles County Museum of Art; e a National Gallery of Art, Washington, D.C. No outono de 2015, o Museo Marino Marini, Florence, irá apresentar uma grande exposição itinerante do trabalho de Woodman com curadoria de Vincenzo De Bellis.