Poem N° 00000000000000000,9 Group Show

Apresentação

Curadoria de Supportico Lopez para Mendes Wood DM
Julian Beck, Henri Chopin, Adriano Costa, Lenora de Barros, Natalie Häusler, James Hoff, Karl Holmqvist, Gregorio Magnani, Zin Taylor 

Não é possível, não se pode continuar com a Palavra toda-poderosa, a Palavra que impera sobre todos. Não se pode seguir admitindo-a em todo lar, e ouvi-la em todos os cantos descrevendo-nos, descrevendo acontecimentos, dizendo-nos em quem votar e a quem devemos obedecer. Pessoalmente, prefiro o caos e a desordem que cada um de nós se esforça para dominar, com nossa própria engenhosidade, à ordem imposta pela Palavra utilizada por todos indiscriminadamente, sempre para o bem de um congresso, da igreja, do socialismo, etc...[…] Eu prefiro o sol, aprecio a noite, aprecio meus barulhos e sons, admiro a imensa complexidade de um corpo, gosto dos meus olhares que tocam, meus ouvidos que veem, meus olhos que recebem.... Mas não tenho de ter a benção da ideia escrita. Não tenho de levar uma vida derivada do inteligível. Não desejo me sujeitar à palavra verdadeira que sempre confunde ou mente, não suporto mais ser massacrado pela Palavra, essa mentira que se abole no papel. 
Henri Chopin, Why I am the author of sound poetry and free poetry [por que sou autor de poesia sonora e poesia livre], 17 de janeiro de 1967 


Poem no 0000000000000000000000000000,9 

O número do poema é o próprio poema, e a vida do poema é a vida do próprio artista. O artista como estrutura do poético, vivendo como palavra livre em um círculo de capacidades. É assim que a poesia influencia a prática de fazer arte, uma atmosfera emocional expressada por correspondência direta entre sons, palavras, sentimentos e conotações.

Como certa vez disse Chopin: A arte deve ser valorizada como um vegetal, ela nos alimenta de maneira diferente, isso é tudo. De acordo com essa perspectiva, vemos a poesia ligada à arte como aquele momento em que a palavra se liberta e deixa de ser um veículo inanimado de significado e estabelece sua própria existência no domínio da experiência física. Com a grande tradição da poesia concreta brasileira em mente, a exposição na Mendes Wood DM tem o desafio de oferecer um fragmento contemporâneo da experiência proporcionada pelo Gruppo Noigandres em 1956, quando expuseram pinturas, esculturas e poemas-cartaz lado a lado pela primeira vez no país. 

A arte produzida por Karl Holmqvist é subversiva, uma subversão suave que se torna ainda mais evidente quando repetida e revelada como pano de fundo para futuros encontros e entendimento. Os desenhos expressionistas vanguardistas e abstratos de Julian Beck (feitos entre 1944 e 1958, quando trabalhava com a galeria Art of this Century de Peggy Guggenheim) prevê a corpo/experiência político-poético do seu Living Theatre e, pela simplicidade do processo, parece profundamente conectada com a autoridade teatral honesta e instintiva de Adriano Costa. É interessante notar como em uma exposição como esta as palavras de Waldemar Cordeiro surgem como possível introdução à obra de Zin Taylor: A arte representa os momentos qualitativos de sensibilidade elevados ao pensamento, um 'pensamento em imagens; ou a forma de pensamento que Taylor geralmente denomina e descreve como sua tentativa de organizar ideias em imagens concretas. A posição de Lenora De Barros é bastante intrigante com relação à toda a estrutura da mostra; ela age como ponte entre a faceta mais profunda da palavra como produção da língua e o gesto performativo que a ativa. Essa linha imaginária que conecta as possibilidades poéticas de Beck e a expressividade tipográfica de Chopin encontra no poeta/performer brasileiro o tradutor perfeito, o fio que conduz a estrutura da mostra a uma possível afirmação. A prática de James Hoff, melhor dizendo, a vida de James Hoff, é permeada pela presença do texto como experiência contínua. Sua obra como artista, editor e músico combina todas as possíveis experiências da língua com uma ampla variedade de suas possíveis distorções e desvios. Os vírus, elementos centrais da sua produção mais recente, tentam definir a dimensão da língua para atuar como motor para a criação de novas formas e possibilidades da língua, em vez de destruí-la. Natalie Häusler realiza uma pesquisa extremamente cuidadosa da geografia da poesia, resultando em um diálogo pessoalmente estruturado e contínuo entre o poema escrito e o poema como visão. Com Gregorio Magnani, fica fácil se fascinar com a beleza do livro. O livro como objeto, o livro como narração, o livro como obra de arte. As publicações de diferentes artistas escolhidos por Magnani se fundirão com a forma de exibição da mostra, redefinindo, se assim desejado, a identidade da obra de arte, pensando, citando Robert Barry, que ...durante anos as pessoas se preocuparam com o que acontece dentro da moldura. Talvez exista algo fora da moldura que possa ser considerado ideia artística....


– Supportico Lopez

Vistas da exposição