Viva la Juicy Stewart Uoo

Apresentação

A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar Viva La Juicy, a primeira mostra individual do artista americano Stewart Uoo no Brasil. 

 

Andrew Durbin escreve especialmente para a exposição, 

 

Eu costumava ir a um restaurante chamado Earth Matters para pensar. Localizado no Lower East Side, era um café vegetariano e mercearia de três andares, para onde eu escapava quase diariamente para trabalhar. Parecia um mundo muito distante daquela baixa Manhattan em acelerado processo de gentrificação que sempre me oprimiu um bocado com seus novos apartamentos  envidraçados que desalojaram tantos moradores antigos. É claro que, pela magia negra do mercado imobiliário, o Earth Matters também acabou fechando em 2012, e o edifício foi demolido para dar lugar à “condomínios residenciais”, apesar do restaurante ter garantido reabrir algum dia no Brooklyn. Não reabriu. Desde então, não tive mais um lugar para pensar. Veja bem, precisar de um lugar específico para fazer algo tão fundamental quanto pensar é tanto um tremendo luxo quanto uma péssima característica para notar sobre si mesmo, dado que lugares nunca ficam onde estão nos inconstantes e repugnantes mercados que desmembram prédios para vendê-los à incorporadoras, e o que quer que tenha levado à minha habilidade de “pensar melhorali (entre tantas opções de queijo veganos) do que em qualquer outro lugar eventualmente acabaria de uma forma ou de outra, deixando-me para trás e carente de algum lugar para ir. Era inevitável, mas a fantasia de que as coisas não são tão inevitáveis assim não é super convincente quando se está pedindo uma tábua de qualquer coisa vegana que tomou forma e sabor de lasanha à bolonhesa? É claro que a lasanha era ótima. De todo modo eu meio que superei isso, mas não os condomínios, uma palavra cujo uso no lugar de apartamento eu nunca realmente entendi em termos de valor literal e léxico, embora aceite que um termo com raiz no latim como condominium1 imediatamente evoque uma indiferença eclesiástica que é preferível à excepcionalmente simples palavra francesa e italiana apartamento, que soa muito vulgar para referir-se ao verdadeiro luxo. Minha avó tinha um “condomínio na praia (condo by the beach)”, um gênero de habitação pequenino porém formidável, mas, exceto pelo tamanho, não era muito diferente do meu apartamento em Nova York, então eu nunca o compreendi de fato. Mas sua característica mais marcante não era a metragem, eu suponho, e sim a vista da baía na qual golfinhos brincavam-se entre si. Quando eles apareciam, todos nós íamos para a varanda observá-los, impressionados por sua aparentemente infinita energia. É como um filme, diziam todos. Eu nunca entendi como. Ao -los eu nunca me sentia maravilhado, mas forçado a uma aceitação sentimental da beleza do mundo como ela se apresenta na costa leste da Flórida: praias, barcos com homens pescando, focas, um pôr-do-sol explodindo em laranja, amarelo, vermelho, roxo, cores que eram ao mesmo tempo reflexivas e metálicas. Os golfinhos saltando no horizonte condensavam-se num prisma da natureza que era sempre “de tirar o fôlego”, como a brochura do condomínio da minha avó anunciava com uma foto de um golfinho quase sorridente saltando sobre as ondas em sua capa. A administração mantinha essas brochuras numa sala de recreação para os residentes entregarem à visitantes. Esse material dizia que o local do condomínio contava comuma vista excepcional da celebrada costa da Flórida” e “um lar único no Atlântico, diferente de qualquer outro lugar”. Essas frases vagas mas aparentemente convincentes jamais deveriam ser empregadas para descrever o mundo, mas imagino que em toda parte elas compõe a poesia essencial, ainda que enlatada, que vende essa paisagem para potenciais proprietários de condomínio, assegurando-os de que a presença de golfinhos transformará seu mundo em um paraíso deslumbrante, o qual eles podem adorar de suas varandas cinco andares acima. A vista não é a mesma em todo lugar. 

 

 

Andrew Durbin é um escritor que vive em Nova York. 

 

Stewart Uoo nasceu na California, em 1985. Vive e trabalha em Nova York.  

Uoo participou de inúmeras mostras coletivas, que icluem Künstlerhaus, Halle für Kunst & Median, Graz, 2014; 10a Bienal de Gwangju, Gwangju, 2014; Museum Fridericianum, Kassel, 2015 e ICA, London, 2015. Em 2013 teve a sua primeira grande mostra institucional, Outside Inside Sensibility com Jana Euler, no Whitney Museum of American Art, com curadoria de Jay Sanders – os trabalhos expostos nessa mostra são agora parte da coleção do museu.  

 

 

Obras
Vistas da exposição