Conversations on limits and unlimits Anna Boghiguian

Apresentação

As mulheres não sabem escrever, as mulheres não podem pintar 
mas o que eu fiz com a minha vida? 
a verdade deve ser corajosamente dita 
Quero pôr em palavras mas sem descrição a existência da gruta 
que faz algum tempo pintei – e não sei como. 
Para me refazer e te refazer volto a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade, mal existo 
e se existo é com delicado cuidado.  
Esses casos extremos de morte não são por crueldade, o menos perigoso é, em meditação, ver, 
que dispensa palavras. 
Está quase escuro demais para ver 
Ser silencioso; estar sozinho. 
Todo o ser e o fazer, expansivo, brilhante, vocal, evaporaram; e um ser encolhido, 
com senso de solenidade é um núcleo de escuridão em forma de uma folha, 
algo invisível para os outros. 
Eu sou a barata, sou a minha perna, sou o meu cabelo, sou o trecho de luz mais branca no reboco da parede 
Apenas apague a luz no corredor Foi feito; concluido. 
Sim, ela pensou, colocando a escova em extrema fadiga, 
Eu tive minha visão



– Trechos de Água Viva, O ovo e a galinha, A Paixão Segundo G.H. por Clarice Lispector e Ao Farol por Virginia Woolf


Mendes Wood DM São Paulo tem o prazer de apresentar a primeira exposição de Anna Boghiguian na galeria. Boghiguian vive uma vida nômade, do Egito ao Canadá e da Índia à França, coletando a história da violência através da experiencia pessoal dela sobre movimento, fronteiras e pertencimento. A exposição é uma conversa entre livros da Clarice Liscepctor e Virginia Woolf, duas mulheres que exploraram nos limites semânticos da literatura a arte pictórica, a imagem do que não se poderia imaginar. 

Os trabalhos recentes da artista reúnem todas as discrepantes possibilidades presentes nos contos de Clarice, como as baratas que saem do armário em A Paixão Segundo G.H. que repugnadas pelos humanos, tem mais a nos ensinar sobre as limitações do nosso olhar do que qualquer outro ser existente no mundo. As transgressões contidas no olhar da autora-personagem questionam estruturas muito além do campo social, elas são exercícios analíticos da existência.

Anna Boghiguian pinta e recorta imagens do universo Clariciano e as remonta sem a linerialidade temporal do olhar humano, assim como Lispector, provocando quem vê, não gratuitamente, mas em um exercício de auto-escrita nesse lugar do silêncio, deixando vários campos vazios na narrativa pictórica como os buracos recortados no papel coberto de pigmento e cera de abelha – usada há milhares de anos atrás para a produção de velas – cobrindo a sujeira do seu desenho com matéria nobre.

Essa nobreza também se encontra nos trabalhos em chapas de metal em referencia ao famoso To the Lighthouse de Virginia Woolf, que nas inseguranças da personagem Lily Briscoe, pintora que está trabalhando na ilustração de um livro, cria a força e o mistério da luz de um farol, mas deixa vários espaços não ditos na escrita. 

Boghiguian não é linear e apresenta um trabalho que é tão sensível, agressivo e imaterial em alguns momentos quanto as escritoras visitadas nessas imagens e a exposição é justamente essas conversas não limítrofes entre a arte e a literatura.

Obras
Vistas da exposição