Nick Mauss & Ken Okiishi
Ken Okiishi e Nick Mauss trabalham juntos desde que se conheceram na escola de arte (The Cooper Union for the Advancement of Science and Art, New York) em 1998. Seus trabalhos colaborativos surgiram a partir de diálogos contínuos que praticavam enquanto também trabalhavam como artistas individuais. Suas obras se materializam normalmente após o convite para uma exposição ou um projeto, enquanto a efêmera e mutável conversa privada é lançada à forma física no espaço. A textura da crise, da hesitação em tornar visível a densidade emotiva e teórica dos pensamentos privados, é forçada para fora, até quando as palavras produzem um curto-circuito de fontes e materiais que os espectadores acham que já entendem. A experiência, por si só, distancia-se. Na exposição apresentada na Mendes Wood DM, os artistas apresentarão dois novos trabalhos colaborativos, contrapostos a trabalhos que mantêm assinaturas individuais. É a primeira vez que eles exibirão trabalhos colaborativos e individuais no mesmo espaço; esperando que isso gere ainda mais conflito para o problema cognitivo do entendimento sobre como as formas e materiais ganham forma e se conectam/desconectam de várias redes de imagens, materiais, objetos e sujeitos.
A obra na área frontal do galpão, After Depuis (Fill) (2014), ativa o piso como se objetos padronizados pudessem ser dispostos para preencher um espaço físico, assim como o fazem na tela. Este aspecto virtual de objetos reais vai contra o caráter físico da vida real, enquanto o preenchimento tridimensional é progressivamente interrompido pelos visitantes, que tentam navegar em meio a este desconcertante preenchimento de colheres e ovos de concreto. Este objeto-imagem surge como uma recordação sobre algum trabalho já realizado por Mauss & Okiishi no passado, porém, com materiais e formatos alterados para se adequarem ao cenário do galpão da galeria; a memória ressurge em formas físicas, de modo a transformar o sincronismo em rede, que costuma ser exigido dos corpos e objetos em um mundo extremamente conectado, em algo incomum.
Em oposição a este campo de objetos-memória, que pairam no limite entre o físico e a tela, estão as novas obras da famosa série de Ken Okiishi, gesture/data (2013 – atualmente). Okiishi ficou empolgado porque encontrou uma marca de televisores no Brasil que vendia equipamentos brancos. Com isso, ele pôde expandir a noção da TV para uma tela readymade, em termos de cor e níveis de transparência/opacidade.
Trabalhando com Chroma Video Paint (normalmente usado em produções cinematográficas para retirar e reinserir fundos), Okiishi reproduziu, em sua versão anterior, um vazio digital que se transforma em material: não como um método técnico e temporário de filmar, para criar uma reprodução realista ou emocionante (como nos filmes de ação), mas como um estado suspenso do vácuo. Nos trabalhos das séries exibidas aqui ele expandiu este vazio duplo do Chroma Video Paint para a tela e para o vazio azul do sem sinal (vídeo da tela CRT, comprimido para pixels irregulares em mp4); ao mesmo tempo, trechos da TV aberta gravados enquanto esteve no Brasil e assistia TV emergiram em vários trabalhos.
No espaço posterior, o espaço das colheres confronta uma estranha combinação de materiais vistos em caminhadas por São Paulo e pelo Rio de Janeiro—transformados em cabeças em conversas de Mauss & Okiishi, como se o mundo fosse tão mutável e bruto quanto uma colagem do Photoshop. Ou como se um pesadelo de repente saísse rastejando pelo chão. Em Total Nightmare (Grande Pesadelo), de 2014, um lençol de madeira de cor fúcsia brilhante encontra-se com uma planta preta, observada ao admirar o nome fantástico de um prédio residencial, Henri Matisse. Enquanto isso, o Chroma Blue Video Paint da sala da frente cobre o conjunto de materiais—e um laser espalha padrões de imagem sobre todo o cenário. É como se os materiais da tela tivessem se transformado em outros materiais, diferentes—todos suspensos, em um mar de colheres, com plantas morrendo de sede. Isso é confrontado com um trabalho de uma série exibida por Mauss primeiramente no Japão, que se transformou em sua lendária primeira exposição na galeria 303, em NY. Mauss, que trabalha lentamente e deliberadamente, como se o ato de lançar obras de arte no mundo fosse tanto doloroso quanto essencial—apresenta somente um trabalho individual, em um espaço aberto. Feito em folha de alumínio e tinta, esta obra se altera dramaticamente, dependendo do ângulo de visão, proximidade e hora do dia. Dessa forma, age como a materialização dos pensamentos mais profundos, antes que encontrem palavras—antes de serem liberados de suas camadas difíceis.
As exposições colaborativas anteriores de Okiishi e Mauss incluem One Season in Hell, na Gavin Brown’s Enterprise, Nova York, 2007, e MD 72, em Berlim, 2008; A Fair to Meddling Story, em Künstlerhaus Stuttgart, 2007; e, em 2012, Okiishi e Mauss foram curadores da White Columns Annual, na White Columns, em Nova York. Seus livros incluem A Fair to Meddling Story, JRP Ringier; e One Season in Hell, da Gavin Brown’s Enterprise, em Nova York. One Season in Hell foi reimpresso este ano pela FRAC Champagne-Ardenne e Mousse Publishing.
Ken Okiishi (nascido em 1978, em Ames, Iowa) recentemente realizou exposições solo em locais como Reena Spaulings, em Nova York; no MIT List Visual Arts Center; no Hessel Museum of Art, Bard Center for Curatorial Studies; MD 72, em Berlim; Matheu, em Berlim; e Pilar Corrias, em Londres. Atualmente, está trabalhando em um projeto no Museu Ludwig, em Cologne, que vai inaugurar em outubro deste ano.
Okiishi foi apresentado na Whitney Biennial 2014 e na Based in Berlin 2011; já participou de diversas exposições coletivas em locais como o Artists Space, em Nova York; White Columns, em Nova York; Museum Fridericianum, em Kassel; Kunsthaus Bregenz, na Áustria; ICA, na Filadélfia; Frieze Projects, Frieze Art Fair, em Londres; Green Naftali, em Nova York; Bortolami, em Nova York; GAMeC, em Bergamo, Itália; Peep-hole, em Milão; Herald Street, em Londres; na Foksal Gallery Foundation, em Varsóvia; no Camdem Arts Center, em Londres; na Broadway 1602, em Nova York; e na American Fine Arts, em Nova York.
Okiishi escreve regularmente na Artforum, e a primeira monografia aprofundada sobre seu trabalho, The Very Quick of the Word, foi publicado pela Sternberg Press. O trabalho de Okiishi também está presente em coleções públicas, como o Museu de Arte Moderna, de Nova York; o Whitney Museum of American Art, em Nova York; e o Solomon R. Guggenhein Museum, em Nova York.
Nick Mauss (nascido em 1980, em Nova York, NY) participou recentemente de exposições solo em locais como a 303 Gallery, em Nova York; Galerie Neu e MD 72, em Berlim; Bergen Kunsthall, na Noruega; Fiorucci Art Trust, em Londres; Indipendenza Studio, em Roma. Produziu uma nova obra para o Unlimited, no Art Basel, em Basel, este ano. Seu trabalho está atualmente à mostra no Portraits d’Interieurs, no Nouveau Musee National de Monaco. Vai inaugurar um novo trabalho—um balé—no Frieze Projects, Frieze Art Fair, em Londres, em outubro deste ano. Mauss participou da Whitney Biennial 2012 e da Greater New York 2010, MoMA PS1; e esteve em diversas exibições coletivas em locais como o Museu de Arte Moderna, em Nova York; o Artists Space, em Nova York; David Zwirner, em Nova York; Kunsthaus Bregenz; Mathew, em Berlim; The Walker Art Center; Martin Gropius Bau, em Berlim; Kunsthalle, em Zurique; Kunsthalle, em Basel; The Hessel Museum of Art, Bard Center for Curatorial Studies; Broadway 1602, em Nova York; Greene Naftali, em Nova York; Galerie Daniel Buchholz, em Cologne; Le Magazin, em Grenoble; and American Fine Arts, em Nova York. Seus projetos como curador incluem Bloodflames III, Alex Zachary, em Nova York; Crystal Flowers, Mathew, em Berlim; Between the Lines, Hotel Chelsea, em Nova York; e Volcano Extravaganza, em co-curadoria com Milovan Farronato (diretor do Fiorucci Art Trust), em Estrômboli, ilhas Eólias.
O artista regularmente escreve para o Artforum, e seus livros incluem Geschenkpapiere (Walther Koenig, Londres), Come and Interrupt Me (Midway Contemporary, Minneapolis), Inversions (Bergen Kunsthall, Bergen). Seu trabalho Whose Sleeves? foi publicado na Peep-hole Sheet #14, pela Mousse Publishing. O trabalho de Mauss faz parte de coleções públicas, incluindo o Museu de Arte Moderna, em Nova York; o Whitney Museum of American Art, em Nova York; The Walker Art Center, em Minneapolis; e o Museu de Arte Contemporânea, em Los Angeles.