Primeira Pedra Matheus Rocha Pitta
A Mendes Wood DM tem o prazer em apresentar Primeira Pedra, a segunda mostra individual do artista mineiro Matheus Rocha Pitta na galeria. A escultura que batiza exposição, reúne pequenos cubos de concreto produzidos em série. Com tamanho ideal para acomodar-se em uma mão e dispostos no chão da galeria sobre folhas de jornal de ontem, os cubos são oferecidos ao público não por dinheiro, mas por uma outra pedra: para possui-los, o visitante deve sair da galeria e trazer a primeira pedra que encontrar. Afirma-se, dessa forma, um vínculo entre a galeria e a cidade por meio do gesto de carregar uma pedra. Experimentação que reúne, criticamente, a idéia de participação neoconcreta com a categoria de non-site de Robert Smithson (ao final da mostra os cubos são convertidos em uma coleção heterogênea de pedras recolhidas).
Essa ideia de vínculo é reafirmada, não sem eloquência, na série de lajes O Acordo: um arquivo de fotografias recortadas de jornais, retratando pessoas performando acordos – gestos como apertos de mão, abraços, beijos. Rocha Pitta trabalha com uma curiosa técnica de versar concreto sobre jornal, um híbrido de molde e colagem. É baseado numa maneira barata e comum de construir túmulos de concreto. Para evitar que o concreto grude no fundo da forma, usa-se jornal pra isolar, que assim inevitavelmente é incorporado à parte interna da laje. Popularmente, a piada sombria é que os mortos terão algo pra ler.
Em suas pesquisas, Rocha Pitta se deparou com antigas estelas funerárias gregas que mostram a dexiosis*: o morto é retratado apertando a mão com a divinidade, em troca de proteção para os vivos e para a vida após a morte. Tal uso é atualizado na série de lajes apresentada na Mendes Wood DM, que transforma a galeria um tipo de abrigo para a paradoxal natureza do acordo como uma afirmação de mudança.
Por meio de projetos diversos, Matheus Rocha Pitta (Tiradentes, 1980), sedimentou interesses e estratégias que permitem identificar, em uma obra que se adensa a cada novo trabalho, um enunciado crítico sobre os mecanismos de troca que regem a vida comum. Em 2014 o artista participou da Bienal de Taipei e da coletiva Blind Field no Kunst IM Tunnel de Dusseldorf e em 2013 realizou a individual Acordo, Fondazione Morra Greco, Napoli, Itália. Foi também recipiente do 1º lugar do I Premio Itamaraty de Arte Contemporânea. Nos últimos dois anos realizou individuais no Pivô, São Paulo; no Paço Imperial, Rio de Janeiro e na Fondazione Volume!, Roma.