TraysForFlotation Adriano Amaral
Observar as criações de Adriano Amaral e seu processo de produção é igualmente prazeroso e denso. O ambiente criativo do artista encampa um universo de referências que, de uma forma ou de outra, parecem sempre apontar para coisas tanto internas quanto anteriores ao próprio ser humano, seja no tempo, no espaço, ou simplesmente na maneira como nos apropriamos das nossas experiências e resignificamos através da linguagem.
Intercalando materiais extremamente delicados como retalhos de seda, minuciosamente costurados entre si, com estruturas de alumínio que alteram o espaço ou mesmo esculturas de carvão, baseadas em peças de roupas, o artista não sintetiza seus questionamentos nem reduz a experiência do observador a essa dicotomia entre o delicado e o bruto.
A opção por esses materiais é extremamente consciente e remete a ideia de nossa fragilidade em relação ao tempo, nos direcionando a pensar num tempo outro que não esse do relógio, algo que está situado num plano muito distante, seja isso anterior à nossa existência ou num tempo em que já não estejamos mais aqui; tempos em que tais materiais existem independentes da ação humana, levando a metáfora num plano palpável, ainda que discreto a princípio.
É importante compreender que nessa busca por retratar, ou simbolizar, esse tempo tão alheio a nós humanos, o que Amaral está propondo não é tentativa de anular os sujeitos, ou de meramente saturar nossa sensação de fragilidade perante a natureza, mas tentar de alguma forma deslocar nossa percepção dos espaços em que nos situamos, e como apreendemos esses espaços.
Isso fica evidenciado pela maneira como pensa suas obras também a partir do espaço físico onde elas estão dispostas, como quem está tentando dizer tudo isso seria arte, se estivesse em outro lugar?, ou ainda o espaço que contém essas obras, não pode compor além de apenas conter?
Lembrando, nesse sentido, a série Sound for Joined Rooms, de Maryanne Amacher, onde a artista buscava compor instalações sonoras baseadas na arquitetura do prédio, buscando uma harmonia e uma ressonância que ia desde a acústica do ambiente até as paredes e os materiais utilizados para a construção.
Maryanne usava a arquitetura como um instrumento a mais em suas composições, o artista o faz também, com a diferença de que o processo é inverso, seus trabalhos complementam o espaço físico, deslocando seu sentido anterior, dando novos tipos de percepção e contato com o ambiente.
Amaral é um artista de delicadezas, ainda que trabalhando seus tecidos com representações quase geométricas, a alusão é direcionada a algo espiritual e fluído; esse processo se repete em diferentes níveis e formas com seus outros trabalhos, como se cada interpretação e experiência relacionada a seu trabalho viesse acompanhada de sua própria oposição.
Adriano Amaral nasceu em Ribeirão Preto em 1982. Ao longo dos últimos anos, o artista tem vivido e exposto seus trabalhos na Europa onde participou do programa de mestrado em Escultura no Royal College of Art, em Londres, e está atualmente em residência no programa DeAteliers em Amsterdã. Sua mostras recentes incluem as individuais Never From Concentrate, Múrias Centeno, Porto (2015), Soft Matter, Space in Between, Londres (2014) e as coletivas Postcodes: Kind, São Paulo (2014), Open Cube, com curadoria de Adriano Pedrosa, White Cube, Londres (2013); e A Sense of Things, Zabludowicz Collection, Londres (2014).
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Adriano Amaral, Untitled | Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2014
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sem título, 2015
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Adriano Amaral, Sunrise, 2015