Antena Luis Gispert
A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar Antena, primeira exposição individual do artista americano de descendência cubana Luis Gispert no Brasil. Por meio de fotografias que possuem uma ligação técnica não muito distante de suas esculturas e ready-mades, a exposição retrata sua obsessão pelo modernismo caribenho, pelo movimento Black Power na América e a correlação da música afro em Cuba e nos Estados Unidos.
Na mostra, Gispert investiga sistemas de transmissão clandestinos onde histórias e narrativas até então secretas vão sendo desveladas. Por meio de retratos culturais e estereótipos exagerados, o artista coloca o espectador em um lugar de dúvida, em que o pano de fundo é a realidade da obsolescência compulsiva dos objetos de consumo. O artista faz referências ao cenário cultural cubano no período castrista e fala de um tempo em delay, de uma economia sucateada, mas concomitantemente de uma percepção vivaz da condição humana.
Em uma de suas obras o artista referencia a pintora abstrata cubana Carmen Herrera, que teve seu primeiro quadro vendido aos seus 89 anos. Nessa obra, intitulada Carmensita What Have You Done? (¿Carmensita Qué has hecho?) presente nesta exposição, o artista conta a história da pintora. Através de um tríptico Gispert relaciona o protagonista de uma imagem com um famoso músico de Blues americano, manipulando a verdadeira nacionalidade do músico (que é cubano) pela simples mudança de seu instrumento musical. Dessa forma, ele se utiliza dos estereótipos da pobreza de um lado e o excesso de outro, nos mostrando que toda a história teria sido inventada em seu estúdio, assim como do que sucedeu com Carmen Herrera que teve apenas sua arte descoberta quando se mudou para os Estados Unidos.
Em seu trabalho, o espectador é levado a impasses e contradições arquitetados a partir da correlação entre a fotografia e seus ex-objetos, que juntos induzem a percepção e entendimento da transmutação de valores provocados pelo artista. Em obras como Nappy Light e Eileen, Gispert se utiliza de objetos anteriormente sucateados e os transforma em objetos de desejo e consumo. A falsificação artística desses objetos é uma estratégia pela qual ele tensiona as relações entre o valor intrínseco e valor falseado.
Gispert mostra de forma intuitiva através de uma máscara de cenários obviamente teatrais e feitos em estúdio, a aleatoriedade dos sistemas de valiação, e crueza de seus contextos. Assim levanta questões importantes sobre esses valores intrínsecos e falseados, sobre os personagens reais que se tornam fictícios e histórias que têm como eixo central a fragilidade da nossa percepção. Após trilhar o caminho correlativo de suas obras, o espectador se perde em um labirinto de valores, no seu próprio ser individual e alter ego social da construção espectral que vivemos; onde está sempre por um triz, a memória de quem somos de fato.
In Antena, Gispert investigates clandestine transmission systems where so far secret stories and narratives are unveiled. By the use of cultural portraits and exaggerated stereotypes, the artist places the spectator in a place of doubt, where the background is the reality of obsolescence of compulsive consumption objects. The artist makes references to the Cuban cultural scene during Castro’s government and speaks of a time in delay, of a ruined economy, but concomitantly of a lively perception of the human condition.
In one of his works Gispert refers to the Cuban abstract painter Carmen Herrera, who sold her first painting at age 89. The artist tells Herrera’s story in the piece entitled Carmensita, What Have You Done? (¿Carmensita, Qué has hecho?) included in this exhibition. In the triptych, Gispert presents an American Blues musician and a Cuban troubadour, solely differentiated by a switch of the protagonist’s musical instrument. Thus, he uses the stereotypes of poverty on one side and the stereotypes of excess on the other, showing us that the whole story could be invented in his studio, in the same way it happened to Carmen Herrera whose art was only discovered when she moved to the States.
In his work, spectators are led to impasses and contradictions organized from the correlation between the photographs and their ex-objects, which together induce the perception and understanding of the transmutation of values the artist conveys. In pieces such as Nappy Light and Eileen, Gispert takes disparate objects and transforms them into signs of desire and consumption. A gold chain and Afro wig lead into a mid-century Danish lamp; the E1027 by Eileen Grey table is topped with a fake chrome hubcap. The artistic falsification of these objects is a strategy by which Gispert strains the relationships between intrinsic and constructed value.
Through a mask with obvious theatrical sets made in the studio, Gispert intuitively reveals the randomness of the values and the crudity of their contexts. In this way, he raises important questions about these intrinsic and fake values, about real characters that become fictional and about stories whose central axis is the fragility of our perception. After walking the correlative path of his works, spectators get lost in a maze of values, in their own individual selves and social alter egos of the spectral construction we live in: where the memory of who we really are is always at a close call.
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Luis Gispert, Antena 1, 2013
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Luis Gispert, Carmensita What Have You Done? (Carmensita ¿ Qué has hecho), 2013
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Luis Gispert, Eileen, 2013
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Luis Gispert, Inca chair, 2013
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Luis Gispert, Nappy Light, 2013
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Luis Gispert, Too much soul for the hairless, 2013
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Luis Gispert, “The Bargainer” (el negociador), 2013