Being blonde with insufficient funds (transpirations of a virgin) Florian Meisenberg
O homem nasce com pés, mas ele mesmo precisa fazer suas asas crescerem. Quanto mais longas e mais fortes as asas se tornam, menos os pés deixam vestígios na terra.
O mesmo se aplica aos artistas – quanto mais alto eles voam com a ajuda das asas que eles fizeram crescer, menos significantes deixam na terra, e mais cicatrizes aparecem no céu, por causa de suas asas. Tenho certeza que os artistas que firmemente seguem estes passos, no final, simplesmente desaparecem do horizonte humano – portanto, apenas o céu se torna o receptáculo das cicatrizes de suas asas pontiagudas.
Florian Meisenberg também começou com marcas deixadas na terra. Ele deixou traços exuberantes, alegres e mágicos sobre as superfícies de suas pinturas: pássaros envoltos em luz e cores paradisíacas que se transformaram em pedras preciosas de um majestoso colar; insetos coloridos – membros de uma família grande e feliz, agarrados uns aos outros, e que abrangem o grande espaço da enorme tela de Florian como uma teia de aranha glamourosa; também os seres humanos transvestidos de insetos, copulando em quartos insignificantemente mobiliados e decorados; discípulos de Jesus Cristo, que, durante a última ceia, ficaram perdidos por trás de uma mesa enorme e que foram transformados em minúsculas feridas, dolorosamente coloridas deste enorme objeto metafórico; um fascinante tapete ornamental da mesma cor rosa dos corpos dos leitõezinhos chineses que o compõe. E muitas outras imagens extravagantes, florescentes, mundanas e celestiais, todas charmosamente carismáticas.
Nessa fase pés Florian estava explodindo o mundo, e o mundo o estava retribuindo na mesma moeda.
Mas qual é o principal talento dado ao filho de Deus? O de superar essa atração simplória para fenômenos mundanos(!) o que faz dele um escravo do mundo, e transforma o mundo em uma selva sem limites de aventuras exóticas na qual se pode ficar perdido e esquecido. Sim, o filho de Deus tem a força para superar este festival de gala, e para desenhar com tinta preta sobre a toalha da mesa desta celebração grandiosa apenas um sinal – um único, enorme ponto de interrogação que se estende por todo o mundo! E aqui, a partir deste momento, dentro deste ponto de interrogação, asas começam a crescer rapidamente; e é por isso que essas aves, suínos, figuras copulando, discípulos e Deus sabe mais o quê – brilhantes, piscantes, hipnotizantes, característicos das superfícies de fenômenos – lentamente se transformam em sinais silenciosos, símbolos, metáforas. Então, aqui as animadas piruetas da existência param para ser aprisionadas... para dentro de profundo silêncio, e aqui começam os primeiros vôos de elevação de artistas pelo ar.
Neste espaço, aqui e ali pode-se notar sinais suspensos, criações de artistas – mas eles não são para a regulamentação do tráfego da vida. Estes são os projetos para a realidade perfeita sugerida por Platão como a causa inicial da existência de tudo [Eidos]. Estes sinais são as cicatrizes que resultam da ação poderosa das asas pontiagudas que artistas conseguiram desenvolver.
Mas as cicatrizes e sinais específicos de Florian, deixados no ar, dançam uns com os outros. A dança é a visão inicial de Florian, detectada por ele através de seu exame profundamente subjetivo do sentido mais profundo das coisas e acontecimentos que nos rodeiam. Seu vôo pessoal chega ao ar rarefeito de um espaço cheio de sol; as cores quentes e convidativas de suas telas cruas criam a qualidade dentro da qual estes sinais que dançam são colocados. Através deles ele nos fala de um cataclisma feliz, onde esses sinais são realmente os restos de um outrora dramático castelo metafísico, agora em ruínas, não mais servindo a ordem simbólica e sua hierarquia. Eles se tornaram brinquedos, flutuando livremente e interagindo uns com os outros de uma maneira nova, livre de qualquer profundidade e altura.
Em sua essência, o cosmos destes significantes cheios de fôlego constroem um novo espetáculo, sem começo nem fim, sem dialética e sem nenhuma orientação de meta | razão.
O futuro deste cosmos se refere apenas ao processo poético sem fim, e abre explorações mais alegres do êxtase do absurdo. Mas este absurdo, muito afastado da história humana, não tem qualquer amargura (contrastando com a associação humana usual da perda do sentido de algo). Ela expõe apenas a luz da gloriosa irresponsabilidade! Sem nunca ter tido esta condição em seu poder aqui na terra, o homem a vem simulando ao longo da história, com a ajuda de diferentes meios: riqueza, conhecimento, crenças. Todo ser humano sempre esteve e está se esforçando para alcançar esta condição divina, mesmo inconscientemente – é a sua principal obsessão! Há muito, muito tempo eles até inventaram um nome para esta condição, o apelido pesado e desajeitado Verdade [Logos], que, no final, tornou-se um fardo que se transformou em sua prisão mais eficiente; uma que durou até que este nome Verdade fosse completa e inteiramente desacreditado. Mas, desde o fim do nome falso, Verdade, a dança de sinais no ar dourado tem continuamente descoberto e clamado pelo nome verdadeiro, Gloriosa Irresponsabilidade.
– Gia Edzgveradze
The same applies to artists – the higher they fly with the help of the wings they grew, the less signifiers they leave on earth, and the more scars appear in the sky, because of their wings. I am sure artists who firmly follow these steps, in the end simply disappear from the human horizon – so only the sky becomes a bearer of the scars from their sword-like wings.
Florian Meisenberg also began with marks left on the earth. He left exuberant, joyful and magical traces on the surfaces of his paintings: birds wrapped in light and paradisical colors and turned into the gemstones of a majestic necklace; colorful insects – members of one big and joyous family, clinging onto each other and covering the vast space of Florian’s huge canvas as a glamorous spider's web; also, insect-like humans having sexual intercourse in pettily furnished and decorated rooms; disciples of Jesus Christ who, during the last supper, are lost behind an enormous table and turned into the tiny, painfully-coloured wounds of this huge metaphorical object; a mesmerizing, fleshy-piggy-rose coloured ornamental carpet made out of the bodies of Chinese piglets; – and many other flamboyant, flourishing, worldly and heavenly images, all with charismatic charm.
At this feet – stage Florian was exploding the world, and the world was doing the same with him.
But what is the main talent given to the child of God? To overcome that bumpkinly attraction to worldly phenomena(!) which makes him a slave of the world, and turns the world into a boundless jungle of exotic adventures that one can get lost and forgotten in. Yes the son of God has the strength to overcome this gala-fest, and to draw with black ink on the table cloth of this Gargantuan celebration only one sign – a single, vast, question mark stretching across the world! And here, from this moment, within this question mark, wings begin rapidly to grow; and that is why these birds, pigs, fucking figures, disciples and God knows what else – glittering, flashing, mesmerizing characteristics of the surfaces of phenomena – slowly turn into silent signs, symbols, metaphors. So, here the lively pirouettes of existence stop to be caught… into the favour of deep silence, and here begin the first elevating flights of artists into the thin air.
In this space, here and there one can notice suspended signs, artists' creations – but they are not for the regulation of life-traffic. These are drafts for the perfect reality Plato suggested as the initial cause of existence of everything [Eidos]. These signs are the scars which result from the powerful action of the sharp wings that artists succeeded in growing.
But Florian’s specific scars and signs, left in the air, dance with each other. The dance is Florian’s initial vision, detected by him via his deeply subjective examination of the deeper sense of the things and events around us. His personal flight reaches up into the thin air of a sun-filled space; the warm and inviting colours of his raw canvases are create the quality within which these dancing signs are placed. Via them he speaks to us of a happy cataclysm, where those signs are actually the debris of the once-dramatic metaphysical castle, now in ruins, no longer serving the symbolic order and its hierarchy. They became toys, freely floating and interacting with each other in a new way, free from any depth and height.
In their very essence, the cosmos of these fresh breath-filled signifiers construct a new spectacle with no beginning and no end, no dialectics and no goal/reason orientation.
The future of this cosmos refers only to the endless poetic process, and opens up further joyful explorations of the ecstasy of the absurd. But this absurd, being far removed from human history, bears no bitterness (contrasting to the usual human association of the loss of the sense of something). It exposes only the light of glorious irresponsibility! Never having this condition in his possession here on earth, man has been endlessly simulating it throughout history with help of different means: wealth, knowledge, beliefs. Every human being always was and is striving towards this divine condition, even unknowingly – it is their main obsession! Long, long ago they even invented a name for this condition, the heavy and awkward moniker Truth [Logos], which in the end became such a burden that it became their most efficient prison; one which lasted until this name Truth finally discredited itself fully and entirely. But since the demise of the false name, Truth, the dance of signs in the golden air has been continually discovering and chanting the true name, Glorious Irresponsibility.
– Gia Edzgveradze
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Florian Meisenberg, Da série: Being blonde with insufficient funds (transpirations of a virgin), 2014
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Florian Meisenberg, Da série: 7 seas against dandruff (Pacific Ocean), 2014
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Florian Meisenberg, Da série: 7 seas against dandruff (North Sea), 2014
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Florian Meisenberg, Being blonde with insufficient funds, 2014
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Florian Meisenberg, (Transpirations of a virgin), 2014