No element, however has the final word in the construction of the future Runo Lagomarsino
Mendes Wood DM São Paulo tem o prazer de apresentar a terceira exposição individual do artista sueco-argentino Runo Lagomarsino na galeria. O artista aproxima trabalhos recentes e inéditos que dialogam com as histórias de heranças coloniais, fronteiras geopolíticas e culturais e as relações de poder, sob uma perspectiva quase imperceptivelmente melancólica.
Na primeira sala as paredes são completamente carimbadas com as palavras America Amnesia, suscitando uma reflexão sobre o apagamento no processo historiográfico das Américas e suas transformações culturais, ao mesmo tempo em que questiona a leitura automática da América como sendo os Estados Unidos. Uma das paredes é iluminada por um farol de Ford Falcon 78, modelo de carro que se tornou conhecido na Argentina por ser usado, durante a ditadura, por forças governamentais paramilitares como a Triple A (Aliança Anticomunista Argentina) em sequestros e desaparecimentos. Uma luz que não deixava sombras.
Clarear os olhos na escuridão, além de afastar a melancolia, confortar a fraqueza do coração e provocar alegria e magnitude, são essas propriedades medicinais atribuídas ao ouro por um ourives espanhol, meio século após a conquista da Nova Espanha. Entretanto, quando Hernán Cortés diz a Montezuma que ele e seus companheiros conquistadores sofriam de uma doença do coração que somente o ouro poderia curar, estaria se referindo a essa mesma fraqueza e contando com a empatia do Asteca que não poderia negar-lhe o remédio? Ou seria a consciência de que a Metrópole só se define a partir do outro, do ouro do outro? Cortés engana Montezuma para abastecer os cofres da coroa, ou lhe confessa a debilidade do sistema?
A relação inseparável entre conquista e dependência é um ponto de convergência entre os trabalhos da exposição. Aplicados no espaço expositivo – seja num rodapé pirogravado que traz a este espaço algo de doméstico, seja pela repetição de um carimbo que transforma em mural o gesto de escritório, seja em serigrafias que aderem verticalmente à parede contrariando o movimento natural da tinta – os trabalhos não estão presentes sem esforço, ocupam uma posição de fricção, onde o passado não é estático, mas navegável.
Uma caravela coberta pela neblina, uma ilustração do livro Primera crónica y buen gobierno de Felipe Guaman Poma de Ayalas e um recorte de um jornal britânico com a legenda A soft stroke and... A farwell kiss. A notícia mostra a atriz e ativista politica grega Melina Mercouri em visita ao Parthenon no British Museum, como Ministra de Cultura, numa campanha para repatriar o templo. A neblina que faz desaparecer o horizonte (ou a embarcação), o relato do Inca que mostra a extração do olho e da capacidade de ver e os olhos da ministra que chora diante do mármore que hoje leva o nome do seu descobridor; são diferentes aparições de gestos de resistência visíveis sobre a parede lixada.
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Runo Lagomarsino, The distance from one laugh to the other is 123,5 cm, 2018
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Runo Lagomarsino, Screwed into the ground, nailed into the past, 2018
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Runo Lagomarsino, Mormaso, 2018
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Runo Lagomarsino, The Obelisk (one obelisk too many ?) , 2018
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Runo Lagomarsino, Z as in Zobrevivir , 2018
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Runo Lagomarsino, You see, every tool is a weapon, 2018
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Runo Lagomarsino, When a fight starts, it never ends (here they are in exile, a marvellous exile with people who care very much — but they are in exile.), 2018
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Runo Lagomarsino, Untitled | Sem título, 2018
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Runo Lagomarsino, AMERICAMNESIA, 2017