À bença meus padrinhos Wallace Pato
Mendes Wood DM São Paulo tem o prazer em apresentar a primeira mostra individual do artista Wallace Pato na galeria. A exposição reúne pinturas recentes que traduzem o ponto central de sua pesquisa como cronista do samba carioca e do subúrbio brasileiro.
Pato é um artista autodidata que inicia seu trabalho há cerca de seis anos conectando as paisagens do Nordeste com as do imaginário carioca, em um exercício de crônica, pintando as paredes dessas ruas. Sua pintura vernacular conta histórias que ilustram referências da cultura brasileira. Essas narrações reúnem de festividades a crianças nas ruas, as cenas carnavalescas, as refeições e até os funerais. O trabalho do artista tem o respeito pela dissolução dos detalhes, compondo a construção da imagem com histórias familiares, nas palavras de Wallace: “Eu pinto sobre o subúrbio, sobre o Brasil. Tenho vários objetivos, mas acho que o maior deles é ser porta-voz de quem nunca foi ouvido. Gente que é gigante tem muita força, carrega uma história enorme, muito nas costas e nunca tiveram a chance de falar, ou quando o fizeram, foram ofuscados”.
A mostra apresentada tem relação direta com a história do samba, ilustrando momentos da criação do movimento artístico que elevaram a cultura brasileira à sua máxima consequência. O samba tem sua origem nos ritmos trazidos pelos negros escravizados, com o fim do império e o começo da nova república, se espalha gradativamente pelo Brasil, ocupando locais de resistência e de celebração, quase sempre de maneira furtiva, dada a inclemente recusa dos escravagistas em aceitarem que os negros pudessem ser humanizados. Fosse em casas de avós, em reuniões em terreiros e barracões, nas ruas, becos e vielas dos subúrbios até chegarem as rodas de bar, essa cultura acaba por estabelecer o patamar de libertação de um povo do jugo as forças conservadoras e os conceitos rígidos que por ora insistiam em limitar o potencial criativo de um povo.
Dona Ivone Lara, reconhecida como a Grande Dama do gênero, foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba e também a primeira a empunhar o cavaco e está retratada no centro da pintura de Pato, cercada por homens. Sua potência estabelece na narrativa do artista a busca por realçar não somente os elementos dessa cultura mas o seu caráter disruptivo onde a força da mulher ganha o primeiro plano. Em Buscar Dendê, o artista referencia a Capoeira – referência Afro-Brasileira de expressão cultural e que teve por anos proibida a sua prática – relacionando o titulo do trabalho a uma das conhecidas composições de Mestre Maxuel que embalam as rodas, e retrata em sua pintura dois meninos em meio ao jogo. A Capoeira é reconhecidamente uma das válvulas propulsoras do ritmo marcado nas palmas das mãos que viria a estabelecer a cadência do Samba.
A obra de Pato caminha pela origem do samba e encontra no campo das artes plásticas aquele que fora um dos grandes nomes a retratar em seu rito o samba carioca em suas pinturas. Heitor dos Prazeres (1898-1966) um dos ícones da arte popular brasileira que além de pintor fora também compositor e cantor e participou da criação de grandes escolas de samba do Rio de Janeiro surge cercado pelas pastoras referenciando sua prática e dando vida ao referencial pictórico que caracterizou sua própria arte.
Cartola, Pixinguinha, Clementina de Jesus, Clara Nunes, dentre outros ícones povoam a exposição de Wallace Pato junto às personagens que abrangem seus laços familiares. Pessoas e rostos comuns as lembranças de sua criação contam a sua história e estabelecem os seus pilares introduzindo ao público suas referências com generosidade ao mesmo tempo em que esconde na sua imagem – entendida as vezes como sumária – os segredos dessas histórias, instigando o observador a estudar um enredo não contado. Pato entrega ao mesmo tempo que guarda para si o lugar de onde veio, o chão por onde pisou quase que em um movimento ritmado, protegendo e compartilhando do seu sagrado.
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Wallace Pato, Tem piedade óh mãe de Deus., 2021
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Wallace Pato, A bença Heitor dos Prazeres., 2021
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Wallace Pato, Quando eu morrer me enterre na lapinha., 2021
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Wallace Pato, Que malandro é você?, 2021
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Wallace Pato, Tiê tiê oia lá oxá., 2021
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Wallace Pato, Sorriso aberto., 2021
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Wallace Pato, Buscar Dendê., 2021
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Wallace Pato, Que Deus me defenda, 2021
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Wallace Pato, Hilária Batista de Almeida, 2021
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Wallace Pato, Na palma da mão., 2021