Mimosa tenuiflora Naufus Ramírez-Figueroa
Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a primeira individual no seu espaço em São Paulo do artista Naufus Ramírez-Figueroa (Guatemala, 1978). Intitulada Mimosa Tenuiflora, a mostra reúne trabalhos em vídeo, pintura e escultura – cenários imbuídos de uma atmosfera de sonho e fantasia, mas que dialogam sobre um mundo desperto. Mimosa tenuiflora, nome de uma árvore com propriedades curativas cujo habitat abrange as Américas do Sul e Central, reflete principalmente sobre a prática mais recente do artista, com temas relacionados à ecologia e à simbiose entre humanos e natureza.
Usada historicamente no tratamento de doenças de pele por comunidades tradicionais da América Central – e, por isso, chamada de “árvore da pele” –, a Mimosa tenuiflora recebeu um reconhecimento mais notório depois do terremoto de 1985 que devastou a Cidade do México. Ramírez–Figueroa relembra a partir dos relatos da época o uso extensivo da planta na substituição dos tratamentos da medicina ocidental. Também usada para fins terapêuticos em rituais religiosos na América do Sul – a exemplo do uso das folhas na Jurema, prática religiosa brasileira de herança indígena –, a árvore que dá título a esta exposição indica o interesse do artista em investigar um conceito mais amplo de pele e de cura.
O conjunto de pinturas da mostra, feitas em acrílica sobre madeira e que recebem o título Between tree and skin, derivam do próprio conceito de cuidado com a pele enfatizado pelo artista. Antes de tudo, Ramírez-Figueroa atenta para como a natureza – e, em especial, a Mimosa tenuiflora – pode compensar a falta de cuidado do ser humano com o seu próprio corpo e com o seu entorno. O interesse sobre a pele recai também em um aspecto maior da obra do artista: os estados de transfiguração. Ramírez-Figueroa frequentemente recorre ao uso da fantasia e da alegoria para transformar imagens e objetos do cotidiano.
No vídeo Linnaeus in Tennebris, resultado da instalação e performance conduzidas pelo artista no Museu CAPC em Bordeaux, Ramirez-Figueroa produz uma espécie de espaço semelhante a uma plantação de banana e que alude aos sistemas classificatórios de botânica aplicados pela comunidade científica – nomeadamente, o botânico Carl Linnaeus – durante o Iluminismo europeu. Aqui, o artista reflete sobre os sistemas classificatórios que defendem hierarquias de poder e sobre as migrações forçadas até hoje sustentadas por uma lógica de colonialismo. Com as expedições científicas da época, pessoas da Guatemala e de outras regiões da América Central eram obrigadas a migrar para o Caribe, em virtude do domínio do cultivo de certas plantas. O artista interrelaciona as consequências desse processo: a migração das plantas é também a história da migração forçada de seres humanos.
A prática de Ramírez-Figueroa reflete como um todo sobre complexas trajetórias e memórias – algo também presente na investigação dedicada à Mimosa tenuiflora e à relação com a pele. A escultura intitulada A Mirror Tree reforça essa simbiose – árvore como espelho e como entidade, capaz de abranger a trama de relações que a pele e a natureza suscitam. O artista percorre essa trama e traz para o mundo do visível – em que a pele é síntese do contato, da transformação e da cura.