Butterfly Joint Kentaro Kawabata

Apresentação

A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar, em seu espaço expositivo em São Paulo, a primeira mostra individual de Kentaro Kawabata no Brasil. Intitulada Butterfly Joint, a mostra reúne um contundente corpo de trabalho do artista japonês, percorrendo quatro séries de esculturas em porcelana que atestam as recomposições da matéria e os ciclos de renovação da natureza. Butterfly Joint é também uma maneira simbólica de ver o trabalho do artista, no qual o artificial e o orgânico se encontram e constituem um todo.  
 
Os interesses de Kawabata revelam uma prática escultórica em torno de formas mais biomórficas, mas que não descartam uma certa estranheza. O artista combina o conhecimento da porcelana e a experimentação de processos alquímicos, observando a maneira como as peças se desenvolvem a partir de técnicas como a queima do vidro embutido em porcelana e a submersão de prata em água sulfurosa. O resultado é sempre vital, evocando o trabalho serpenteante dos dedos sobre as bordas das peças e a criação de superfícies ricas em texturas e detalhes.
 
No trabalho do artista, não há dissociação entre o que é envoltório e o que é envolto. A beleza da aparência se mistura ao essencial, ao coração do que deve ser tocado. É o caso da série Batista, que ganha esse nome a partir do contato de Kawabata com uma referência brasileira: o médico que conduziu a primeira cirurgia destinada a corrigir a insuficiência cardíaca. Nas obras, a presença de rachaduras ou fendas nas formas evoca essa noção de falha, algo que o artista não descarta a importância. Ao mesmo tempo, a intenção de Kawabata é a de utilizar essa espécie de falha como um recurso que amplifica a unidade da obra. A aparência brilhosa da superfície, obtida pelo tratamento do esmalte combinado a diversos materiais, soma-se à forma biomórfica das peças e reforça esse caráter vital.  
 
Em outras obras, o fazer artístico se apresenta como uma oferenda – caso da série Spoon, em que a natureza dos trabalhos expressa a condição formal e simbólica da colher. Essas peças recebem também um cuidadoso refinamento de suas superfícies, a partir da aplicação de metais como a prata e da finalização de alguns detalhes em platina. O trabalho do artista é sempre alquímico, sempre no sentido da transformação e do amadurecimento das peças. Transformação, por sua vez, que envolve os ciclos de renovação – de morte e vida da natureza. Em obras como as da série Abandonment, Kawabata procura fazer jus aos descartes, criando formas que se assemelham a objetos descartados – como uma fralda, por exemplo. Aqui, a prática do artista também opera em um sentido alquímico, reconhecendo no descarte um elemento de vida, de renovação.  
 
No respeito e devoção aos materiais, o artista enxerga a possibilidade de um ciclo contínuo de renascimento. Na série Soos, Kawabata utiliza as sobras e materiais danificados de outras peças, como as da série Batista. O título é uma derivação japonesa da palavra inglesa "source" – alterado pelo artista para SOOS para se adequar à pronúncia japonesa da palavra. Também simétrico, 'SO' significa grama em japonês, enquanto 'OS' é uma referência aos sistemas operacionais. Ao lembrar um pedido de ajuda – SOS – Soos reflete sobre questões de tempo e materialidade: as novas peças, feitas a partir das sobras, incluem prata em sua composição – material que apresenta mudanças ao longo do tempo. O artista leva então essas peças ao onsen – local de águas termais vulcânicas no Japão – e mergulha a prata em uma água sulfurosa de alta temperatura, criando uma pátina única em sua coloração e textura.  
 
Soos implica um respeito ao tempo – o artista reconhece uma chama de vida na transformação e nos diferentes estados da matéria. A série parece se situar entre um passado geológico e um futuro apocalíptico, mas com alguma capacidade de retenção. O emprego dos diferentes processos alquímicos sobre a porcelana subentende o sem-fim da natureza, a continuidade dos ciclos. Na prática de Kawabata, não há beleza sem relação com o orgânico: as obras consideram o acúmulo de processos e o descarte, tendo na aparência biomórfica – e misteriosa – o reflexo de sua essência.
 
Kentaro Kawabata (1976, Saitama) vive e trabalha em Gifu, Japão.  

Após graduar-se no Tajimi City Pottery Design and Technical Center em 2000, Kawabata começou a ganhar prêmios por seu trabalho, incluindo:  Kamoda Shoji Award, Mashiko Pottery Exhibition (2004) e Paramita Museum Ceramic Award (2007). Seu trabalho tem sido incluído em mostras individuais e coletivas em instituições de cerâmica de grande renome, como National Museum of Modern Art’s Crafts Gallery, Tóquio (2019); Ibaraki Ceramic Art Museum, Kasama (2014); e Museum of Modern Ceramic Art, Gifu (2004, 2010).  

Exposições individuais recentes incluem Yours Truly, High Art, Paris (2022); 凸凹 Bumpy, Nonaka-Hill, Los Angeles (2021); ishoken gallery vol.10: Kentaro Kawabata, ishoken gallery, Gifu (2020); Inside out, Silver Shell, Tokyo (2018); Hello from the Hollows2, Sokyo Gallery, Kyoto (2017); Kentaro Kawabata, Art Biotop, Tochigi (2016). Exposições coletivas recentes incluem Le Biscuit à Soupe, High Art, Arles (2022); Push + Pull, Mai 36, Zurich (2022); Gyeonggi International Ceramic Biennale, Icheon (2017); PUNK, Rakusuitei Museum of Art, Toyama, Japan (2016); CONTEMPORARY JAPANESE CRAFTS The Kikuchi Kanjitsu Prize II, Musee-Tomo, Tokyo (2016).  

Obras
Vistas da exposição