Carla Zaccagnini
Lluvia, 2005
graphite on paper
grafite sobre papel
grafite sobre papel
14 x 9.5 cm
5 1/2 x 3 3/4 in
5 1/2 x 3 3/4 in
Não há dúvidas de que a convivência nos aproxima. Grupos de amigos, estudantes da mesma classe, parentes próximos, terminam compartilhando referências, criando uma linguagem comum, colecionando um repertório dessas piadas...
Não há dúvidas de que a convivência nos aproxima. Grupos de amigos, estudantes da mesma classe, parentes próximos, terminam compartilhando referências, criando uma linguagem comum, colecionando um repertório dessas piadas a que chamamos internas. Ao longo de anos vivendo juntos, nos contagiamos de expressões e gestos como se fossem sintomas. Lemos ou pensamos ter lido os mesmos livros, reconstruímos ou reinventamos cada filme com cenas mal guardadas dispersas por nossas memórias, guiamos e desviamos as falas de um e de outro em diálogos que ninguém sabe quando começam. Esses dois desenhos da chuva e da palavra que a chama em duas línguas, foram feitos antes de saber que nossos diálogos perderiam o começo: o primeiro na Suecia em 1997 e o segundo em Cuba, poucos meses depois de nos conhecermos.
Numa das primeiras noites que dormimos juntos, quando ainda lhe surpreendia o barulho de uma tempestade tropical sobre um telhado de barro (e me surpreendia que falasse durante o sono), o Runo disse sem acordar “Lyssna på regnet” (escuta a chuva). Voltando a olhar esses desenhos, tão semelhantes, se se quer, e tão diferentes de outras coisas que os dois fazemos, poderíamos nos perguntar se nos aproximamos a partir do nosso encontro ou se nos encontramos porque já éramos próximos. Mas talvez igualmente importante seja a distância. A distância de quem se encontra numa cama onde a chuva faz um som novo, a distância de quem ouve quem dorme ao lado falar numa língua que desconhece. O caminho de casa que nos afasta.
Numa das primeiras noites que dormimos juntos, quando ainda lhe surpreendia o barulho de uma tempestade tropical sobre um telhado de barro (e me surpreendia que falasse durante o sono), o Runo disse sem acordar “Lyssna på regnet” (escuta a chuva). Voltando a olhar esses desenhos, tão semelhantes, se se quer, e tão diferentes de outras coisas que os dois fazemos, poderíamos nos perguntar se nos aproximamos a partir do nosso encontro ou se nos encontramos porque já éramos próximos. Mas talvez igualmente importante seja a distância. A distância de quem se encontra numa cama onde a chuva faz um som novo, a distância de quem ouve quem dorme ao lado falar numa língua que desconhece. O caminho de casa que nos afasta.
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