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11/03 - 08/04 2023
A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a primeira exposição individual do artista dinamarquês Victor Bengtsson em Bruxelas.
Ocupando a totalidade do último andar da galeria, as pinturas de Bengtsson, em sua maioria obras em grande escala, abrangem ao mesmo tempo três divisões cronológicas diferentes. Os trabalhos adotam uma estética reconhecidamente antiga, que é, por via de regra, associada com a arte medieval e renascentista para abordar questões éticas complexas relacionadas à brutalidade da história da medicina moderna nos séculos XVIII e XIX; questões estas que, podemos dizer, são mais urgentes hoje do que nunca.
Bengtsson, que está, atualmente, estudando medicina na Universidade de Copenhague, capturou eventos e histórias singulares e muitas vezes perturbadores da história da medicina para usá-los como pontos de partida em suas elaboradas composições. A própria exposição tira o seu título de um dos trabalhos expostos: The Gardener’s Son [O filho do jardineiro], que se refere a um evento real acontecido em 1796. Um médico britânico, chamado Edward Jenner, notou que a sua ordenhadora, que estava em contato frequente com as vacas e, portanto, sofria várias vezes de varíola bovina, parecia ser a única pessoa resistente a um surto de varíola. Ele formulou a hipótese de que ela havia desenvolvido imunidade à doença e forçou a inoculação do vírus da varíola bovina no corpo do filho do jardineiro, contra a vontade dele. Após um curto período de doença, ficou claro que o menino havia alcançado a imunidade contra a temida doença. Em suma, Jenner tinha acabado de inventar a primeira vacina do mundo. Mas a qual custo? Uma vida é mais ou menos valiosa do que a outra? Quais são os limites éticos que devem governar a pesquisa médica? Deve haver algum? Quem decide isso?
De um modo parecido, The Mad Dog from Alsace [O cão louco da Alsácia] mostra o famoso médico francês Louis Pasteur que inoculou uma vacina da raiva, com a qual ele estava trabalhando na época, em um rapaz francês que acabara de ser atacado por um “cão louco”. Esse rapaz, Joseph Meister, tornou-se a primeira cobaia humana de uma solução médica não comprovada.
Outros trabalhos na exposição se concentram em exemplos contemporâneos de uma ética médica questionável. Em particular, Bengtsson se interessa pela história do OncoMouse (uma marca registrada), que é o primeiro exemplo de uma espécie patenteada de animal, neste caso um rato, que a empresa médica DuPont usa com o propósito único de pesquisa oncológica. Efetivamente, esses ratos se tornaram substitutos do sofrimento humano, um conceito que carrega fortes conotações cristãs. Em contrapartida, essas conotações também encontram ecos artístico-históricos no estilo e na técnica de pintura do artista. Imagens relacionadas a flores e florestas se conectam com a ideia de Éden, da nossa expulsão dali e do autoimposto sofrimento de Cristo em lugar do nosso.
Bengtsson usa telas de juta grossa como bases para as suas composições. Elas absorvem grandes quantidades de tinta a óleo não diluída que se contrasta fortemente com o uso ocasional de folhas de ouro. O efeito visual geral desses trabalhos é similar a tapeçarias medievais ou renascentistas feitas durante períodos históricos nos quais o Cristianismo definia quase todos os aspectos da vida, da arte e da ciência. Além disso, a Renascença também viu a volta de uma atenção para a medicina e o corpo humano, que muitas vezes se apresenta em posição diretamente contrária aos dogmas religiosos, algo que continuou por muitos séculos, desde a dissecação de corpos humanos nas universidades renascentistas até a ética dos experimentos médicos do século XIX, chegando à clonagem, à fertilização in vitro e à manipulação genética dos dias de hoje.
É de grande importância relembrar que apenas os grandes pesquisadores e cientistas são celebrados pela história, nunca as cobaias, nunca as vítimas. Nesse sentido, Bengtsson tem como interesse voltar a atenção do público para os heróis esquecidos da história da medicina, humanos ou não, que, na maior parte das vezes contra a sua vontade, forneceram a base para o avanço de toda a raça humana.
Victor Bengtsson (n. 1997, Copenhague, Dinamarca) vive e trabalha em Copenhague. Bengtsson estudou belas artes na Vera School of Art and Design e na Krabbesholm Højskole, antes de começar a sua formação em medicina na Universidade de Copenhague. Sua prática, que engloba tanto a arte quanto a medicina, influencia as suas pinturas baseadas em um entendimento das respectivas histórias e da relação entre elas. As imagens singulares de Bengtsson são o resultado de uma experimentação formal com materiais selecionados ao longo dos anos, trazendo referências da tradição dos pré-rafaelitas e da idade do ouro dinamarquesa, bem como da Arte Nova, em sua representação contemporânea de temas médicos. A exposição segue as apresentações individuais Proscenium, na Mendes Wood DM, em São Paulo (2021), e Foraarets Horisont, na VÆG Gallery, em Aalborg (2021). Seu trabalho também esteve em exposições coletivas na eastcontemporary Gallery, em Entrevaux (2021), e no Den Frie Centre of Contemporary Art, em Copenhague (2020).