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18/04 - 17/06 2017

Adriano Costa, Alexandre da Cunha, Ana Mazzei, Anna Zacharoff, Christina Mackie, Christodoulos Panayiotou, Cibelle Cavalli Bastos, Dan Coopey, Daniel Steegmann Mangrané, Djordje Ozbolt, Dominique Gonzalez-Foerster & Manuel Raeder, Dries Van Noten, Erika Verzutti, f.marquespenteado, Francesco João Scavarda, Franz West, Giulio Delvè, Hamza Halloubi, James Ensor, Jason Dodge, Joëlle Tuerlinckx, Kasper Bosmans, Katinka Bock, Laurent Dupont, Lawrence Weiner, Lucas Arruda, Luiz Roque, Mariana Castillo Deball, Matthew Lutz-Kinoy, Mauro Restiffe, Meriç Algün Ringborg, Michael Dean, Neïl Beloufa, Nick Mauss, Nicolas Deshayes, Nina Canell, Otobong Nkanga, Paloma Bosquê, Patricia Leite, Paul Sietsema, Rineke Dijkstra, Robert Janitz, Rodrigo Hernández, Rosemarie Trockel, Runo Lagomarsino, Sonia Gomes


Se eu tivesse que criar um deus, eu lhe daria um “entendimento lento”, um entendimento dos problemas pingado gota a gota. As pessoas que entendem rápido me assustam.

– Roland Barthes

NEITHER. 

Ao pensar uma exposição que inaugura uma galeria brasileira em Bruxelas, meu primeiro pensamento foi: o que eu penso, quando penso na Bélgica? 
Buscando um conceito para essa exposição, lembrei-me de uma conversa que certa vez tive com o meu avô. Meus avós eram grandes exploradores e na década de 1980 fizeram uma expedição ao redor do mundo cobrindo quatro continentes. Após seu relato dessa experiência, perguntei ao meu avô de qual lugar ele tinha gostado mais. Para minha surpresa, sua resposta foi: Bruxelas. Perguntei o porquê, e ele me disse que ali havia comida francesa em porções alemãs. 

Divagando sobre a anedota do meu avô e sua experiência nos anos 1980, o pouco que eu conheço sobre a história fragmentada do país me fez pensar no conceito de neutralidade. O termo “neutro” associado a uma política de estado é perturbador. Até que ponto é possível se manter imparcial em nome da estabilidade? Em vez disso, pensemos em “neutro” como a experiência de um estado de nuance na fronteira da linguagem e, consequentemente, na fronteira da cultura. 

Roland Barthes, em sua conferência sobre o Neutro em 1978, descreve sua metodologia de trabalho da seguinte forma: “Para preparar esse curso eu “passeei” a palavra “Neutro” por certo número de leituras, apoiado em um procedimento da tópica (...). Não passeei o Neutro ao longo de uma grade de palavras, mas de uma rede de leituras, ou seja, de uma biblioteca”. A biblioteca escolhida por Barthes, não por acaso, foi a de sua casa de campo no interior da França, segundo o autor, um lugar-tempo onde a perda de rigor metodológico é compensada pela intensidade e pelo gozo da leitura livre. 

Uma proposta de reflexão sobre os desdobramentos do Neutro, deslocando esse conceito para o contexto de uma exposição de arte, é, antes de tudo, uma procura livre por um outro modo de se fazer presente nos embates do nosso tempo. Vivemos em uma época em que a tomada de partido é urgente – como sempre foi –, mas as vias e os métodos para tal necessitam de revisão. O Neutro de Barthes não é consenso, indiferença ou tomada de partido, ao contrário, é ativo. É uma forma de burlar o paradigma antes que esse nos force a decidir entre um lado e outro. Onde há sentido há paradigma e o Neutro é a vontade de se manter no momento anterior à cristalização de qualquer conceito, ideia ou categoria reconhecível. O Neutro barthesiano vive na nuance e está sempre em busca de um terceiro termo que ofereça uma nova chave de entendimento, longe de qualquer oposição binária. 
 
No espaço expositivo, o Neutro barthesiano se materializa com a replicação livre de sua predileção por uma escrita em fragmentos, resultante de um afeto obstinado e não de uma metodologia rigorosa. Todos os trabalhos na exposição trazem em si a semente do Neutro flutuante. Alguns não se encaixam em categorias específicas e permanecem deliberadamente à margem da linguagem. Outros ecoam as “figuras” ou “cintilações” citadas por Barthes como possíveis corporificações do Neutro, como a androgenia, o sono, o deslocamento, a deriva, a fadiga e a falta de cor. 

Quais são os elementos necessários para criar uma atmosfera, um lar ou um espaço proposicional ativo – uma exposição como um ambiente acolhedor? A galeria é compartilhada por anfitriões e hóspedes, e o conceito de Barthes é como a primeira cadeira posicionada em uma casa vazia: a partir de sua presença os outros elementos se relacionam e negociam seus lugares. Barthes diz: “Eu não construo o conceito de neutro, eu exponho os neutros”. Assim como Barthes, nós não estamos à procura de uma definição, mas sim de um conjunto de instâncias.

Este novo espaço que agora nos une está entre a mudança e o sentir-se em casa, em um lugar entre Brasil e Bélgica, que já não é mais uma casa de família, mas que ainda não é uma galeria de arte em pleno funcionamento. Fazendo esta pausa consciente, que respeita a distância e o percurso da viagem, a exposição reconhece a harmonia e o conflito, ao mesmo tempo que toma o tempo necessário para a galeria tornar-se – novamente – o que já é.  

Fernanda Brenner







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