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27/06 – 31/08 2019
A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar Resiliência e Reverberação, a primeira mostra individual da artista brasileira Leticia Ramos nos Estados Unidos. Explorando os limites da fotografia analógica, as complexas imagens da artista combinam técnica e ilusão. Para Leticia, a fotografia é uma forma de mágica químico-mecânica. A artista se vale de pesquisa empírica e experimentação para criar seus trabalhos, buscando a intersecção estética entre documento e ficção. Resiliência e Reverberação é composta de vários trabalhos de seus projetos recentes A Resistência do Corpo e História Universal dos Terremotos, que examinam percepções da realidade, rupturas e modos de produção.
Leticia iniciou sua carreira construindo câmeras improvisadas e usando raio X para controlar e entender processos químicos. Desde então, a câmera foi eliminada por inteiro e a artista passou a utilizar diferentes técnicas para captar luz e, assim, criar suas imagens. Isso é alcançado por meio de fotogramas, que são imagens fotográficas feitas sem a ajuda de uma câmera. Os objetos são colocados na superfície do papel fotográfico sob a exposição da luz. Esse processo resulta em impressões bidimensionais de formas tridimensionais. Em sua série Fotograma de Luz, Leticia expande a ideia do fotograma e elimina o próprio objeto. Em seu lugar, ela cria esculturas usando luz pura exposta nos negativos, captando a trajetória da luz na gelatina de prata do papel. Sua investigação sobre como criar fotografias sem o uso da câmera levou-a à criação de uma paisagem sem paisagem física, como em Panorama Preto II, que lembra um céu escuro aveludado pontuado por distantes galáxia. Na realidade, o trabalho resulta da raspagem direta do negativo de microfilme, removendo completamente a necessidade de luz para criar a ilusão do espaço.
O interesse de Leticia em ilusões e na maleabilidade daquilo que é real aparece nas séries de fotogramas Rupturas e Riscos, da sua exposição História Universal dos Terremotos, de 2018. Originalmente apresentada no Pivô, em São Paulo, a mostra examinou o devastador terremoto de 1775 em Lisboa e seus efeitos na colônia do Brasil na época. O terremoto foi a maior catástrofe natural já registrada na Europa[1] e foi responsável por impulsionar Portugal em direção à modernidade, já que obrigou o avanço da pesquisa geológica e arquitetônica, servindo-se do Brasil para obter o capital e a matéria-prima necessários.
Rupturas e Riscos são retratos de terremotos no exato momento da ruptura inicial. Para Rupturas, Leticia construiu um aparelho que aplica força a um pedaço de pau-brasil até seu ponto de ruptura, usando luz estroboscópica e negativo de microfilme. O trabalho testa a resistência e o limite do material. De maneira similar, a série Riscos tenta documentar uma força invisível: o movimento das placas tectônicas durante um terremoto. Para esse trabalho, Leticia empilhou madeira, papel fotossensível e lixa em um aparelho vibrador, criando, em essência, um mini-terremoto em seu ateliê. A imagem resultante é um plano negro com arranhões violentos nos locais em que a lixa entra em contato com a gelatina do negativo, ilustrando a ruptura do terremoto. Em suas séries, Leticia materializa eventos que não guardam evidências fotográficas e explora a ideia de terremoto em si como um tropo da precariedade política e pessoal.
O meio é também um elemento vital na prática de Leticia, como vemos na animação stop-motion Campos Magnéticos. No vídeo, uma massa luminosa se movimenta na tela, reproduzindo uma estrela cadente presa num loop eterno. O trabalho resulta da ação de apontar uma lanterna lentamente para o microfilme, quadro a quadro, até que a ilusão do movimento seja alcançada. Como grande parte das informações que consumimos, Campos Magnéticos é uma ilusão vestida de realidade que reformula nosso entendimento do passado.
A instabilidade política serve como combustível para as ideias centrais de Leticia. Seus trabalhos se tornam relíquias de acontecimentos transcorridos, produtos de escavações arqueológicas que se convertem em realidades artificiais. Entretanto, não importa o quão tumultuado e sombrio seja o contexto político, sua busca é sempre a mesma: retratar a esperança. O melhor exemplo disso é Mão, da série A Resistência do Corpo, em que um punho aparece emergindo do entulho com um pano de fundo cinza e arranhado, simbolizando a resiliência e a força que brotam da tragédia. Apesar da instabilidade que nos rodeia, ainda estamos aqui.
Letícia Ramos (1976, Santo Antônio da Patrulha, Brasil) vive trabalha em São Paulo, Brasil.
Os trabalhos de Letícia Ramos foram exibidos em várias instituições, entre elas: Tate Modern, Pivô, Itaú Cultural, Centro Cultural São Paulo, Parque Lage, Coleção Berardo, Instituto Tomie Ohtake e CAPC-Musée d’art contemporain (Bordeaux). Seu trabalho foi reconhecido por vários prêmios, entre eles: o Prêmio Marc Ferréz, a Bolsa de Fotografia do Instituto Moreira Salles, o Prêmio BES Photo e a Bolsa de Artes da Fundação Botín.
Suas exposições recentes incluem: HISTÓRIA UNIVERSAL DOS TERREMOTOS, Itinerários XXIII, Fundação Botín, Santander (2017); VOSTOK – Um prólogo, Pivô, São Paulo (2013); Bitácora, Mendes Wood DM, São Paulo (2012); Escafandro, La Bande Video, Quebec (2011); ERBF – Estação Radiobase Fotográfica, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, (2009/2010). Seu trabalho foi incluído em mostras coletivas institucionais, tais como: Biennale Jogja XII, Jogja (2017); Hercule Florence: Le nouveau Robinson, Nouveau Musée National Monaco, Villa Paloma (2017); 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil – Panoramas do Sul, Sesc Pompéia, São Paulo (2013); Expo Projeção 1973-2013, Sesc Pinheiros, São Paulo (2013); Se o clima for favorável/Weather Permitting... 9ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2013); Programa de Fotografia, Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2012); Trilhas do Desejo, Rumos Artes Visuais, Itaú Cultural, São Paulo (2009).