Vistas da exposição









Texto
Culatra
03/03 2012 – 31/ 03 2012
Quando, por ocasião da vitória das tropas aliadas em 23 de fevereiro de 1945 contra o exército japonês, Joe Rosenthal pediu para que um grupo de soldados yankees pousassem para sua lente como se hasteassem heroicamente o peso da bandeira americana em meio aos escombros da paisagem devastada de Iwo Jima, o que se explicitava ali não era simplesmente o character abstrato e arbitrário da narrativa histórica, mas, sim, o próprio descompasso brutal estabelecido naquele momento entre a realidade objetiva dos fatos e a dimensão simbólica de sua extensão histórico-política. Vista por um certo ângulo, a encenação da foto de Rosenthal é menos uma mera deturpação da efetividade do acontecimento do que, não obstante, uma tentativa de reenxertar na matéria histórica dilacerada pela guerra os conteúdos simbólicos e psíquicos que, em última instância, de fora para dentro, ali, a moldam e definem.
Em sua primeira mostra na Mendes Wood, Deyson Gilbert lança mão de todo tipo de objetos, materiais e imagens na tentativa de investigar a estrutura constitutiva dessa fratura sempre presente entre valor e imagem, imagem e objeto, objeto e sujeito. Dentre as obras inéditas apresentadas, encontra-se aquela que dá título à mostra, Culatra (estudo para monocromia vermelha). Nela, o espectador se vê defronte a uma manifestação formal mínima: um estreito feixe invisível de raio laser que atravessa todo espaço expositivo projetando na parede e no corpo dos visitantes um pequeno ponto vermelho brilhante. Uma vez ali, descobre o espectador que tal luz provem de um outro local, mais especificamente, de uma das janelas do prédio à frente da galeria. Ali, como que à espera de um atirador de elite, encontra-se uma arma constantemente carregada.