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29/06 – 05/08 2017
De certa forma a vida no arranha-céu começou a se parecer com o mundo lá fora — havia a mesma crueldade e agressão dissimuladas por um conjunto de convenções bem-educadas.
— J.G. Ballard
A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar Condominium, a primeira exposição individual de Giulio Delvè em Bruxelas. A exposição reúne obras recentes feitas com objetos encontrados, elementos cotidianos e materiais como cera, metal, vidro e gesso. Trabalhos de escultura de chão e de parede dialogam entre si de maneira antropomórfica; sussurros e olhares são trocados delicadamente entre formas e materiais pesados.
A criação e seleção das obras é marcada pela experiência recente de Giulio Delvè vivendo em um imóvel ocupado coletivamente em Nápoles. O episódio se deu durante um período em que o prefeito de Nápoles incentivou a ocupação de inúmeros imóveis residenciais abandonados na cidade. Atuando simultaneamente como participante e observador, Delvè pôde analisar criticamente a microcomunidade compartilhada e a maneira como ela operava de dentro. A moradia no imóvel compartilhado foi uma experiência poderosa para Delvè. O artista observou que a ocupação provocava a reprodução dos mesmos mecanismos contra os quais os ocupantes se posicionavam. O sistema social alternativo repetia os problemas estruturais e hierárquicos de nosso modelo político atual e levavam ao caos.
Em Condominium, Delvè apresenta instalações que produzem sons sussurrantes utilizando um compressor de ar e uma garrafa de cerveja. Perto dali, há uma escultura composta de uma trama de arame e argamassa que contém vários conjuntos de olhos de vidro, sinalizando uma atmosfera de vigilância. A série de instalações de parede feitas de vidro estilhaçado reiteram essa sensação. As obras fazem do lugar uma demonstração daquilo que está sendo observado e levanta questões sobre os limites entre o espaço público e o doméstico, como nas pinturas que reproduzem azulejos recorrentes em casas italianas tradicionais. Delvè também captura uma essência de esperança e beleza dos elementos descartados e esquecidos de Nápoles. Usando uma folha de palmeira antiga encontrada nas ruas para criar impressões do nascer e pôr-do-sol feitas à partir de cera de abelha, ele se apropria poéticamente do que de outra forma teria sido varrido como lixo no dia seguinte. Juntas, as obras sugerem uma mudança de exibição para demonstração, questionando quem e o que está sendo observado e desafiando a linha entre o público e privado.
Inspirado no romance Arranha-Céus, Delvè chama atenção para a discussão sobre o habitat humano compartilhado, Delvè propicia uma consciência da condição humana compartilhada que evolui do ato de viver juntos. O artista responde à complacência dos personagens em High-Rise, que inevitavelmente aceitam o status quo social à medida que o caos se desenvolve dentro do prédio, sem o apoio das autoridades externas. Para Delvè, a descrição de Ballard de residentes sem propósito vagando pelos corredores destruídos em desespero é o pressentimento de que isso acontecerá se continuarmos a ignorar as dificuldades dos que vive mem condições precárias.
Condominium questiona as construções sociais que se formam dentro de um ambiente - seja um continente, país ou condomínio - e como eles também giram frequentemente em torno do autoritarismo, a busca do poder e, acima de tudo, a contradição. Delvè propõe um ambiente conspiratório, transformando as observações de sua experiência em uma revolução silenciosa.
Giulio Delvè (Nápoles, 1984) vive e trabalha em Nápoles, na Itália. Suas exposições mais recentes incluem: Neither., Mendes Wood DM, Bruxelas (2017); Muixeranga, projeto para BASE OPEN, Base progetti per l’arte, Florença (2017); SUBLIMINA, Museo delle Mura Aureliane, Roma (2016); Conspire means to breathe together, Supportico Lopez, Berlim (2016); Wholetrain, Fondazione per l’Arte, Roma (2015); Andata e ricordo. Souvenir du voyage, MART, Rovereto (2013).